Qual animal deseja ser abatido?

Foto: Andrew Skowron

Concluiu que não há muitos estudos confiáveis sobre o estado de um animal no momento que precede o abate, sobre seu sentimento ao sentir algo sendo pressionado contra o seu crânio e penetrando-o. “Quem já sentiu o coração duma vítima pós-atordoamento? Tiro? Eletronarcose?”

Lembrou que o coração de um frango bate até 300 vezes por minuto em condições normais enquanto o de um jovem humano não passa de 90.

“Imagine a aceleração após o choque na cuba de imersão. Há tanta manifestação de vida por trás das penas molhadas que ganham diferentes tons. E tantos comem a carne de um animal que é eletrocutado antes de ser degolado.”

Dizem que é parte de um protocolo de “abate humanitário”, mas o que significa “humanitário?” Há uma associação com “morte compassiva”, que é prática de redução da tensão muscular para facilitar a violação do corpo, da carne e da vida. Nessa malícia também drenam sua energia para vencer sua resistência.

Mas se abater um animal é tirar-lhe a vida contra sua própria vontade, o que significa também exercer domínio sobre suas indisposições, onde está a compaixão? E por que tal associação com “humanitário” se nem tudo que é humano é compassivo?

A ideia duma “morte mais humana” nunca pareceu-lhe muito coerente se ser “mais humano” pode significar tantas coisas convergentes quanto divergentes, boas ou ruins, já que não somos feitos apenas de boas. “Há palavras que usamos como floreios que na realidade não floreiam nada, a não ser nossos próprios equívocos quando nos são convenientes.”

Entendeu que “humanitário” também significa a destruição dos animais. “E assim testemunham sem poder reagir ao próprio fim enquanto os olhos acompanham a incapacidade do corpo de fazer oposição.”

O quanto deve ser terrível ser submetido a uma situação de anulação de forças para que o matem? “É como se você fosse somente olhos, nada mais do que olhos, que assistem tudo até perder sangue o suficiente para impedir a oxigenação do cérebro e morrer.”

Como associar o abate com respeito ou consideração pela vida não humana? Pensou outra vez nos floreios enganosos que existem para contentamento humano que é ruína não humana.

 

Gosta do trabalho da Vegazeta? Colabore realizando uma doação de qualquer valor clicando no botão abaixo: 




Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *