Quando a morte dos animais pesou

Foto: Aitor Garmendia

Depois de abater um porco, sentiu algo estranho e teve dificuldade pra andar. Outro funcionário mal arrastava a galocha. Em minutos, não havia mais abatedor de pé. Todos estavam sentados no chão.

Moviam os olhos, a cabeça e qualquer outra parte do corpo bem devagar, até que não conseguiram mais levantar as mãos. Lágrimas pesavam, pressionando a pele do rosto, e escorriam em lentidão.

Sem expressão lamuriosa, desespero, raiva, nada disso. Como estátuas recebendo gotas de chuva. Socorro chegou e perceberam que seria preciso vários homens ou uma máquina para remover cada abatedor.

Seus corpos pesavam demais e não falavam nem emitiam som. Um funcionário, de pouco mais de 80 quilos, ultrapassou 320. Não tinha engordado.

Antes de ir para o chão, abateu dois porcos de 120 quilos e sentia o volume dos animais em seu próprio corpo. Em cima? Dos lados? Onde? Por tudo.

Ninguém via manifestação de tristeza ou dor em seus olhos. Era apenas criatura que não transmitia nada aos observadores ou interventores. Mas desejou livrar-se daquele peso e fechou os olhos.

Quando o tiraram de lá, acreditaram que já estava morto e o arrastaram com uma máquina. Outros também. Quem está vivo? Não sabiam o que fazer com eles e aguardaram assistência médica.

Disseram que não havia muito a ser feito e sugeriram sacrifício. Na hora da morte, os abatedores acordaram, levantaram e foram embora.

Minutos depois, num supermercado, o subgerente pediu que os clientes levantassem do chão em frente ao açougue. Sentiam seus corpos pesados demais.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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