Sobre a dor das plantas e o veganismo

(Fotos: iStock/Bob Villa/Animal Equality)

Uma imagem que induz à ideia de que as plantas sentem dor circula com frequência pelas mídias sociais. Isto, embora até anos atrás não tivesse respaldo científico, vai ao encontro de um estudo controverso e de interpretação diversa realizado por Frank Kühnemann e outros pesquisadores do Instituto de Física Aplicada da Universidade de Bonn; trabalho este que foi divulgado pela Deutsche Welle.

Para muitos pesquisadores, o estudo tem sido considerado avançado e substancialmente mais relevante do que o livro “A Vida Secreta das Plantas”, de Peter Tompkins e Christopher Bird, lançado em 1973, que apresenta informações intrigantes sobre os mecanismos de ação e reação das plantas, mas não confirma que elas são sencientes – partindo de uma interpretação tradicionalmente literal.

Sinais de comunicação são diferentes de senciência

Décadas depois, o estudo encampado por cientistas alemães da área de física aplicada, não de biologia, da Universidade de Bonn, baseou-se em sinais de comunicação, e responder a um sinal de comunicação não significa senciência, mas sim capacidade responsiva a estímulos externos.

Ainda assim, não deixa de ser um trabalho relevante quanto à captação e transmissão de estímulos. No livro “O Que as Plantas Sabem”, de 2012, o geneticista e conhecido cientista das plantas Daniel Chamovitz, considerado uma das maiores referências no assunto, afirma que as plantas possuem mecanismos sensoriais muito mais complicados do que pensamos.

São esses mecanismos que permitem que as plantas comportem-se de maneira que levem a uma conclusão de reação ao perigo, ao tempo e aos ruídos, assim como também endossaram os pesquisadores da Universidade de Bonn.

Plantas não se comparam aos animais

Chamovitz e os cientistas alemães defendem que as plantas são organismos complexos, porém, do ponto de vista neurológico, as pesquisas deixam claro que não comparam-se aos animais, até pela inexistência de um sistema nervoso central. Como diz o biólogo Marco Tiné, pesquisador do Instituto de Botânica de São Paulo: “Não há nada semelhante a um sistema nervoso central ou neurônios em plantas.”

Porém, se pensarmos nos animais, já foi provado que muitos deles têm sensibilidade equivalente ou até mesmo superior à humana pelo fato de serem incapazes de racionalizar as próprias emoções. Logo eles sentem dor, e muita, algo que é provado independente da ciência. Afinal, imagino que todos nós já tenhamos visto um animal sofrendo.

O método acústico-etileno usado pelos pesquisadores alemães também não identifica sentimentos em plantas. Já os animais, sabemos que os têm. E claro, eles possuem vida social complexa como as dos seres humanos. Basta ver a forma como relacionam-se com seus filhos e semelhantes.

Veganos e vegetarianos atribuem valor às plantas

Além disso, é um equívoco muito comum alguém crer que veganos não atribuem valor às plantas. Muito pelo contrário. É justamente por causa de veganos e vegetarianos que muitas campanhas contra o desmatamento e a favor da preservação da natureza são encampadas.

Ninguém combate isso de forma mais coerente do que pessoas que recusam-se a consumir alimentos de origem animal, já que a degradação ambiental também tem relação com a crescente destinação de espaço para a criação de animais e produção de ração para alimentá-los.

Conversando sobre esse assunto, um dia alguém perguntou o que eu faria se hipoteticamente fosse provado que as plantas sentem dor. Bom, eu continuaria fazendo o que faço, já que um vegano demanda uma área muito menor para alimentar-se do que quem não é. Afinal, o que parece mais prático: alimentar-se diretamente de vegetais ou produzir vegetais para alimentar animais que serão mortos para consumo humano?

O mais importante é proporcionar o menor impacto possível 

Ademais, minha prioridade é proporcionar o menor impacto possível aos seres vivos enquanto eu viver, e vou me adaptando às novidades sem problema algum. Jamais desconsiderei a importância das plantas. Penso que tudo que compõe a natureza é belo e essencial à sua maneira, independente de níveis de sensibilidade.

No meu caso, tento viver sob princípios de igualdade, equidade e do imperativo moral não especista. Ou seja, não creio que tenho o direito de alimentar-me de animais que, assim como nós, também partilham do interesse em não sofrer e não morrer em decorrência da má intervenção humana.

Publicação atualizada em 30/11/2021

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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