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Sobre o mal da exploração, será que pensamos em animais o suficiente?

Foto: Britta Jaschinski/We Animals

Pense em animais criados para fins de consumo – os que você reconhece como mais explorados e aqueles que considera mais negligenciados. Será que pensamos em animais o suficiente? Em uma diversidade que condiz com a realidade?

Há distinção de percepção de uma pessoa para outra, dependendo de onde vivemos, como vivemos e quais são os produtos de origem animal mais disponíveis e com os quais tivemos relação de consumo mais frequente ou intensa – por predileções, influências, condições econômicas.

É usual analisarmos a realidade mais com base no que conhecemos do que no que desconhecemos. Logo lembramos do que consumíamos e já não consumimos. Não é difícil sentir-se como se houvesse uma barreira entre nós e aqueles produtos.

É uma barreira de estranhamento, de reconhecimento, de que aqueles produtos são repletos de histórias, que conhecidas podem ou não ser transformadoras pela variabilidade de impacto – e evocam serialidade, partindo do conceito sartriano, e singularidade/individualidade.

Mas é a uniformidade que antes nos permitia o irreconhecimento que numa transição para o reconhecimento tem outro efeito sobre nós. Afinal, tudo que parecia tão igual, portanto normal, torna-se chocante ou, pelo menos, desconfortável.

O caráter de igualização e equipolência é tornado estranho aos nossos olhos, independente se há presença ou ausência de um desejo de consumo. Um produto antes em nossas mãos já não tem o mesmo efeito em nossas mãos.

Sobre isso, também podemos pensar na extensa disponibilidade de um produto que é o mesmo na sua repetição – e que está diante de muitos agora, assim como estará amanhã e depois até o seu esgotamento e reposição.

Então, por descontentamento, nos perguntamos até quando, e olhamos à nossa volta imaginando quantos ali poderiam compartilhar desse questionamento. Eles vêm e vão, carregando seus gostos nas mãos, histórias irreconhecidas, portanto, como ausentes.

A ideia do ausente permite-me pensar que consumir, como ato de adquirir, também é comprar ausências, porque é o que explica o “estar ali” como produto.

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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