David Duchovny defende a libertação animal por meio da história de uma vaca, um porco e um peru que fogem de uma fazenda
Li durante uma noite o livro “Holy Cow”, do David Duchovny, que traz uma mensagem pró-vegana em torno da história de uma vaca, um porco e um peru com características antropomórficas que fogem de uma fazenda para viverem na Índia, em Israel e na Turquia, onde acreditam que não serão submetidos à exploração e morte.
A vaca e o peru fogem pela crença de que seriam respeitados, e o porco pela crença de que sua constituição suína, logo “de alimento impróprio”, não faria dele alvo de consumo. Ou seja, para o porco, “sua condição impura” é explorada como um subverter a realidade para a qual foi criado, mas ignorando que não ter seu fim no consumo não faz dele criatura imune às determinações da violência humana.
Afinal, não comer um animal quando não há motivação envolvendo o que é a vida para esse animal, não evita a arbitrariedade, porque não o coloca no “lugar de consideração”.
A história parte de reflexões que exploram o que já era apresentado por Peter Singer em “Libertação Animal”, como a substituição da fazenda tradicional por fazendas industriais. Nisso, pode-se questionar se a validade moral do que é determinado como “vida” para esses animais está no tipo de lugar em que vivem ou na finalidade para que vivem.
Duchovny transfere para os personagens não humanos de sua obra uma consciência que dialoga com nossa própria consciência, uma tentativa de aproximar-nos do que, nessa construção, poderíamos dizer e/ou fazer se experimentássemos a realidade desses animais.
É um livro que traz a “surpresa” do animal que se depara com a realidade humanamente determinada sobre sua vida, que também é encontrada em outras obras literárias e no cinema, como “o estar aqui somente para não estar, porque existo para corresponder ao interesse para o qual sou fim, só não em mim”.
A narrativa explicita isso pelo choque do “mundo menor” com o “mundo maior”, e a crença de que há um lugar para não sofrer com a imposição humana. Também leva a um questionamento se a liberdade permitida é liberdade em real sentido de liberdade. Uma das conclusões da obra dialoga com a visão de Albert Schweitzer, quando a vaca diz:
“Só os humanos se separaram da grande cadeia do ser e de todos os outros animais […]. E, infelizmente, de nós.[…] Quero ser ouvida.”
3 respostas
Obrigado pela dica!
Obrigado por acompanhar as publicações, Philipe.
Um livro que também traz uma fabulação da violência humana contra as outras espécies e uma mensagem pró-vegana é o romance de Michel Faber, “Sob a pele” (Record, 2006). O livro foi adaptado para o cinema em 2013, mas a trama do filme, que tem Scarlett Johansson como protagonista, difere um pouco do enredo do livro: não faz nenhuma referência explícita à exploração dos corpos de outros animais por humanos para abate etc. Pior: no filme a personagem (uma alienígena com forma externa humana) está literalmente sob a pele, ou seja, usa um casaco de pele — de vison ou raposa — para se proteger do frio escocês. Na primeira vez em que assisti não sabia nem o que era veganismo. Mas recentemente, por causa do livro (que ainda vou ler), esse detalhe não passou despercebido. Nada mais passa despercebido agora, por mais sutil que seja.