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Cientistas dizem que coronavírus é só o começo

Uma campanha em defesa da natureza criada pela National Geographic sustenta que haverá mais doenças como o covid-19 (Fotos: AFP/Getty)

De acordo com informações do Independent do final de semana e do Daily Mail de ontem (23), cientistas já estão alertando a população de que o covid-19 é só o começo de uma série de pandemias que está por vir.

Relação entre mundo natural e doenças infecciosas é ignorada

A Campanha Pela Natureza da National Geographic sustenta que haverá mais doenças como o covid-19 em consequência do desmatamento, exploração de animais silvestres e criação e utilização de animais para produção de alimentos e medicamentos.

O entendimento é de que quanto mais o ser humano degrada o meio ambiente e afeta de forma indiscriminada e irresponsável outras formas de vida, mais ele favorece o surgimento de doenças até então desconhecidas pela população.

Enric Sala, um ecologista marinho que está trabalhando na campanha, diz que precisamos parar de ignorar a ligação entre doenças infecciosas e o mundo natural.

Mudança de atitude é considerada urgente 

Uma mudança de atitude é considerada urgente, já que, segundo a ONU, até 2050 a população humana deve aumentar mais dois bilhões, subindo para 9,7 bilhões – colocando pressão extra sobre as fontes de alimentos e ampliando ainda mais a interferência humana na vida selvagem.

O dr. Samuel Myers, da Planetary Health Alliance, disse que as incursões humanas em habitat silvestre estão trazendo consequências severas.

“O que sabemos é que outros animais são um enorme reservatório de patógenos, muitos dos quais ainda não fomos expostos”, informou ao Independent.

Há muitos vírus singulares que podem atingir seres humanos 

David Quammen, especialista em doenças infecciosas, defende que nosso ecossistema contém muitas espécies diferentes de animais silvestres, plantas, fungos e bactérias; e em cada um deles e na diversidade desse sistema existem muitos vírus singulares que podem atingir seres humanos, assim como o covid-19.

Quammen é da opinião de que se colocarmos o covid-19 sob controle, precisamos começar a pensar no próximo vírus. Ele defende mudanças radicais na nossa relação com o mundo e outras espécies.

“Estou absolutamente certo de que haverá mais doenças como essa no futuro se continuarmos com nossas práticas de destruição do mundo”, frisou ao Independent.

Pesquisadores defendem educação voltada ao meio ambiente 

Com a suspeita de que o covid-19 teria sido transmitido de animais para humanos em um mercado de animais silvestres em Wuhan, na China, embora autoridades chinesas não confirmem, o país já proibiu o consumo de animais silvestres, assim como esses mercados.

Há pesquisadores que defendem novas regulamentações como medidas mais enérgicas para proteger o planeta, além de promover um novo tipo de educação que se volte ao impacto que causamos no planeta e como isso pode favorecer o surgimento de doenças infecciosas.

“Quando você destrói uma floresta tropical, os vírus voam. Esses momentos de destruição representam uma oportunidade para vírus desconhecidos contaminarem seres humanos”, apontou o especialista em doenças infecciosas David Quammen.

Zoonoses têm aumentado de forma surpreendente 

As doenças que podem passar de humanos para animais e vice-versa representam mais de 17% de todas as doenças infecciosas e causam mais de 700 mil mortes anualmente, conforme dados da OMS.

O número dessas doenças tem aumentado desde a década de 1950, quando surgiram 30 novas doenças infecciosas. Na década de 1980, isso triplicou, incluindo doenças como HIV, ebola, sars, mers e zika.

“Nos mercados em Wuhan, por exemplo, havia um número surpreendente de espécies exóticas vivas em gaiolas, todas próximas umas das outras e dos seres humanos de uma maneira que você nunca encontraria no mundo natural”, declarou Samuel Myers.

A mesma realidade de “amontoamento” pode ser encontrada quando falamos de animais criados em confinamento para consumo – como ocorre com frangos, porcos, etc.

Mudanças climáticas facilitam proliferação de doenças

“É uma combinação do tamanho da pegada ecológica humana e da globalização. Depois que um patógeno faz esse salto de animais para humanos, ele tem a capacidade de se espalhar pelo mundo rapidamente por meio de viagens aéreas”, avalia Myers.

Além disso, os pesquisadores defendem que as mudanças climáticas e o aumento das temperaturas estão criando melhores condições climáticas para a propagação de doenças. 

A malária, por exemplo, já está sendo encontrada em latitudes e altitudes mais altas, como as terras altas do Quênia, devido ao aumento da temperatura do ar em consequência da crise do clima.

“Quando se trata de populações que dependem da exploração da natureza para a vida cotidiana, é preciso oferecer alternativas”, disse o ecologista marinho Enric Sala.

Governos devem adotar melhores políticas ambientais

A defesa também é de que os governos têm papel fundamental na definição de políticas que protejam o mundo natural. Sala aponta que as empresas podem ajudar.

“O mundo já produz comida suficiente para 10 bilhões de pessoas, mas nós desperdiçamos um terço dela. Não há saúde humana sustentável sem um ecossistema saudável e o aumento de doenças infecciosas nas últimas duas décadas prova isso.”

Enric Sala diz que a solução é manter intacta a natureza selvagem, proibir a caça e o tráfego de espécies selvagens e investir na proteção do mundo natural.

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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