
De acordo com uma pesquisa publicada este mês na revista Science, vegetais eram a base da dieta dos australopitecos. Nossos ancestrais que viveram há 3,5 milhões de anos estavam mais próximos dos herbívoros.
O estudo aponta que a carne não era parte da dieta regular deles. A conclusão é baseada na observação de isótopos de carbono e nitrogênio ligados ao esmalte dentário dos fósseis estudados nas cavernas de Sterkfontein, na África do Sul.
“Nichos alimentares reconstruídos com base nesses fósseis mostraram que os indivíduos australopitecos tinham dietas muito semelhantes às dos herbívoros contemporâneos e modernos, mas diferentes dos carnívoros”, aponta a pesquisa que reuniu pesquisadores do Instituto de Química Max Planck, da Alemanha; Universidade Princeton, dos EUA; e universidade de Witwatersrand, na África do Sul.
A análise do esmalte dentário que levou à conclusão de que os australopitecos não tinham o costume de comer carne se deve ao fato de o nitrogênio no esmalte dentário poder ser preservado por milhões de anos.
“Nossos resultados sugerem uma dieta variável, mas baseada em vegetais para esses hominídeos. Portanto, argumentamos que os australopitecos em Sterkfontein não se envolviam no consumo regular de carne de mamíferos.”
A dieta, segundo a publicação, pode ser considerada como “predominantemente vegetariana” entre esses hominídeos. O estudo também surge como parte de uma dúvida sobre quando nossos ancestrais começaram a incorporar a carne na dieta.
Afinal, tem-se uma crença ainda muito comum de que todos os nossos ancestrais eram grandes consumidores de carne, com a exaltação da caça como algo tão superestimado que normalmente a imagem mais comum é de homens quase que consumindo exclusivamente carne. Portanto, normalmente não se concebe que a verdade pode ter sido diferente e desproporcional à crença comum.
Os autores frisam que a pesquisa fornece evidências claras de que a dieta dos australopitecos não continha quantidades significativas de carne. Outra observação feita é que isso mostra que os primeiros hominídeos se adaptaram a uma dieta à base de vegetais antes de começaram a incorporar a carne – o que evidencia que eles não tinham uma relação de dependência com a carne.
A pesquisa reforça que a mudança para dietas onívoras ocorreu muito mais tarde, ao contrário do que se pensa, e quando os hominídeos já tinham um padrão alimentar baseado essencialmente em vegetais.
Clique aqui para ter acesso à pesquisa “Australopithecus at Sterkfontein did not consume substantial mammalian meat“.
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