Não diga que come carne porque seus antepassados comiam

Não é correto dizer que ele era forte e resistente simplesmente porque comia carne (Arte: Shutterstock)

Antes do surgimento da civilização, o ser humano caçava porque ele realmente acreditava que precisava disso para sobreviver, além da questão de acesso e disponibilidade. Se em vez de um animal, estivesse ao seu alcance um alimento vegetal, ele comeria também. Sim, e realmente fazia isso. Porém, há quem diga que essa alimentação baseada no consumo de animais era o segredo da força e da condição física humana da época, algo que se perdeu com o surgimento da agricultura.

Homem não era forte somente porque comia carne

Porém, não é correto dizer que ele era forte e resistente somente porque comia carne, desconsiderando que ele se colocava em movimento durante as caçadas, e para ter um bom desempenho dependia primariamente de bons carboidratos, glicogênio, estoque de energia.

Ao contrário do que muitos dizem, o surgimento da agricultura não deixou o ser humano doente. O que o deixou doente foi o sedentarismo intensificado após a Revolução Industrial, quando a atenção se voltou de maneira tímida para as más consequências da má alimentação na modernidade.

Entrega ao consumo excessivo

Para piorar, na hipermodernidade, como o acesso à carne foi facilitado, o ser humano se entregou ao consumo excessivo. Naturalmente, o que ele julgava um benefício e um avanço, se tornou um mal para ele mesmo. Uma prova? Dê uma olhada nos carrinhos à sua volta nos açougues dos mercados. Sempre há inúmeros abarrotados de carne.

Diariamente, as pessoas continuam criando pretextos para consumir dezenas de quilos de carne. Uso como exemplo um hipotético churrasco entre amigos. Eles compraram 20 quilos de carne para consumir em uma noite. Para a produção dessa carne, dependendo do sistema, pode ser que sejam necessários até 308 mil litros de água. Essa é a quantidade envolvida em todas as etapas do processo de produção industrial.

Produção cada vez mais insustentável

Quantas horas as pessoas levam para comê-la? Tenho certeza de que não muitas. Ainda assim, essas pessoas reclamam das mudanças no meio ambiente, ignorando a contribuição do consumo de carne nesse processo, assim como a poluição e as emissões de metano gerada pela pecuária; além do desflorestamento para formação de pasto e produção vegetal destinada à alimentação de “animais de fazenda”.

Com o alto consumo de carne, a produção tem se tornado cada vez mais insustentável. Nesse ritmo, vamos testemunhar perdas cada vez mais acentuadas de vegetação. Como isso pode não ser preocupante? Outro fato a se considerar é que se nossos ancestrais consumiam carne, eles o faziam por falta de escolha, comiam para sobreviver, e isso incluía tudo que estava ao seu alcance.

Nossos ancestrais faziam várias coisas erradas

Sendo assim, não é um bom argumento alguém dizer hoje que come carne porque seus antepassados também comiam. Nossos ancestrais faziam várias coisas erradas, nem por isso reproduzimos outros de seus hábitos.

Ademais, eles não tinham o entendimento e o acesso às informações que temos hoje, o que também acaba por ser um grande diferencial, inclusive derrubando mitos sobre a necessidade do ser humano precisar de proteínas de origem animal para sobreviver. Afinal, veganos não existiriam se isso fosse verdade.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

3 respostas

  1. Maravilhosa matéria! !!! Nos ajudando a argumentar com onivoros,,carnistas, sedentos em afirmar a necessidade da carne!!! Nos somos prova viva, porém é bom ter um toque de intelectualidade para arrebatar!!!! Adorei!!!!! Simples assim! !

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *