O quanto pode ser gratificante criar algo para o mal de tantos animais?

Uma reflexão sobre equipamentos usados para o aprisionamento e abate de animais

Foto: Anipixels

Ontem, observei ao meu lado um veículo que trazia em destaque em forma de decalque: “equipamentos para aves” e uma menção a aviários. Era um carro de uma empresa que desenvolve “equipamentos” para aprisionamento de animais em granjas, assim como para matadouros (eles preferem chamar de abatedouros), logo visando ovos ou carne. Sendo assim, equipamentos não para aves e sim para o mal das aves. Havia também alguns desenhos que ilustravam isso – não dos “abatedouros”, claro.

É intrigante como a privação e o mal são normalizados (se não é um mal que o ser humano sofre e sim impõe) e a um ponto em que não há nada de errado, muito pelo contrário, em transmitir uma mensagem do tipo:

“Olhe, podemos garantir eficiência e qualidade na forma como você quer privar e matar esses animais para obter o maior lucro possível no menor tempo possível. Que tal algo que degola melhor?” O quanto pode ser gratificante criar e oferecer algo para o mal de tantos animais?

E isso passa batido pela maioria, pela crença de que não há nada de errado em criar equipamentos que ajudem a subjugar os animais que se quer subjugar; até porque a única coisa que hoje pode impedir isso é a nossa consciência, nossa baliza moral, ou em termo mais simples, nossa empatia (menos conveniente, menos seletiva).

Mas se isso não ocorre maiormente, a lei continuará do lado da violência, da crueldade, se é a lei que garante o exercício da coisificação animal e torna criminoso qualquer ato em defesa de animais tidos como propriedades. Portanto perante a lei não podem receber intervenção externa em benefício deles, se a reação é contra o que é, mesmo que cruel, garantido por lei; porque isso seria tipificado como crime.

As palavras ao redor do veículo, que a mim sinalizavam o tempo todo que se trata de tornar a violência mais eficiente com todo o aparato institucionalizado, eram bem coloridas, do tipo: “Mostre algo vivaz mesmo que seja sobre tirar a vivacidade”. É incomum encontrar quem olhe com estranheza para algo assim, porque há uma percepção viciada de que “essa é a vida dos animais”, mesmo que pudesse não ser, bastando, de nossa parte, querer.

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Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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