Na contramão da agenda ambiental, governo incentiva pesca de arrasto e maior consumo de peixes

Governo federal não vê problema na pesca de arrasto (Foto: Acervo/Mapa)

Enquanto o impacto da pesca comercial é um dos assuntos em maior evidência na agenda ambiental global, o governo brasileiro parece não ver isso como algo de grande importância.

Um exemplo é que para ajudar a fortalecer a indústria pesqueira no país, o governo está promovendo uma campanha iniciada com a “Semana do Pescado”, que começou na quarta-feira (1).

É importante frisar que nesse contexto o governo federal é defensor da pesca de arrasto, que está fora de controle no Brasil. A prática é conhecida por prejudicar também espécies não alvo por meio da chamada “captura acidental”.

Mas isso não incomoda o governo, considerando que há quatro meses, no dia 22 de abril, o Mapa publicou no Diário Oficial da União uma portaria para a retomada da pesca de arrasto no Rio Grande do Sul, onde a prática havia sido proibida.

Já neste mês de setembro, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) está lançando vídeos para promover a indústria pesqueira e o consumo de peixes, que tem sofrido queda no Brasil em relação aos anos anteriores.

“A Semana do Pescado serve para incentivar o consumidor a experimentar novas espécies, testar novas receitas, visitar restaurantes. Isso aumenta o consumo, o que, consequentemente, também impacta na cadeia produtiva”, diz em um comunicado o secretário de Aquicultura e Pesca do Ministério, Jorge Seif.

Dados alarmantes sobre o impacto da pesca

Vale lembrar que embora os oceanos tenham condições de absorver até 93% do gás carbônico do planeta, tal capacidade é comprometida por inúmeras atividades humanas – e uma das que merece destaque é a pesca comercial que culmina por ano em captura e abate de 790 bilhões a 2,3 trilhões de peixes, conforme levantamento do site britânico Fish Count.

Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a pesca comercial tem reduzido a abundância de espécies de peixes, comprometido o potencial de desova e os parâmetros populacionais – incluindo crescimento e maturação.

A capacidade reprodutiva dos peixes também tem sido afetada pela prática, assim como processos ecológicos em larga escala. O impacto geral da atividade é comparado ao da agropecuária.

Pesquisadores como Villy Christensen e D. Pauly, da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá, apontaram há décadas que a pesca excessiva pode transformar um ecossistema estável em um ecossistema bastante ineficaz.

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Jornalista (MTB: 10612/PR), especialista em jornalismo cultural, histórico e literário e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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