Sofrendo com o chão soalheiro, o cavalo derrubou o homem e esperou. Assim que o sujeito se levantou, o cavalo montou. “Agora é sua vez”, comunicou sem falar.
Tentou tirá-lo das costas e não conseguiu. Parecia fixado. Depois de muito tempo, o animal só queria um pouco de compensação. Por que não?
Na cidade, quem via o cavalo e quem via o homem achava que era o homem em cima do cavalo. “Tá reclamando do que, cara? Tá na boa e o infeliz do cavalo quem sofre nesse calor do meio-dia. Tem vergonha não?”
Quando desabou no chão, sofrendo para carregar o cavalo, ninguém estranhou, porque ninguém viu o homem caído com as mãos queimadas – só uma poeira em volta de um cavalo imoto e cansado.
Tiraram o cavalo de cima, como se estivesse embaixo, repreenderam o homem e chamaram a polícia. “O senhor sabia que isso é maus-tratos? Olhe o estado desse pobre animal. Terei de multá-lo. Não tem desculpa. Estou vendo tudo. Não venha com potoca.”
O cavalo já estava montado de novo no homem, mas ninguém via o cavalo em cima, só embaixo. Com as pernas traseiras, pressionou os cascos contra as costelas do montador desmontado. O resultado? Um grito bem gritado. “Maldito infeliz! Suma daqui, desgraçado!”
Estomagado, o policial mandou o homem descer do cavalo montado. “Descer de onde?” “Deixe de gaiatice.” E o conduziu até a delegacia por desacato. O cavalo ficou do lado de fora, relinchando e esperando o sujeito voltar, pra montar de novo e retornar pra casa. Sim, compensação. Ninguém viu o cavalo montado, só um homem empenado. E acabou? Não acabou.
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