O chamado dos animais

Ainda tenho fresca na minha memória a lembrança da última vez em que comi carne. Me ofereceram um lanche, o que eu passava meses sem comer, e aceitei. Afinal, era uma sexta-feira à noite. “Tudo bem, é só hoje”, pensei. Mordi sem pressa e sem o prazer de outrora o alimento que trazia uma variedade […]

Mas o boi tem que morrer?

No mercado, perto da fila do açougue, ouvi uma garotinha conversando com a mãe. Com a naturalidade típica das crianças, perguntou por que ela tinha de comer carne. “Porque você precisa de proteína pra crescer forte e saudável”, respondeu a mãe. “Mas o boi tem que morrer? Ele não chora? E a família dele?”, continuou. […]

Você é um daqueles verdinhos?

Na fila do mercado, uma senhorinha se aproximou para aguardar a vez logo atrás de mim. Expliquei que ela poderia ser atendida mais rápido no caixa preferencial. — Não, filho, eu gosto de ficar aqui. Tenho saúde e não tenho pressa. — Que bom — respondi com sorriso tímido. — Filho, olhei pra você e […]

Algo brilhava dentro do forno

Algo brilhava dentro do forno, e não era papel alumínio, mas a pele untada de um pintado inteiro que trepidava. Quando o tiraram do forno, toda a gente viu seus olhos vacilantes que respondiam à boquinha tremulante. As únicas partes que não foram marcadas pelo fogo. Ainda tinha vida. Seu couro parecia envernizado, e queimaram […]

O leitãozinho da vitrine

Na semana de Natal, a fila do açougue parecia não ter fim, quase encostando em uma distante parede branca, onde centenas de pacotes de cereais preenchiam os expositores. Pessoas e mais pessoas compravam imensas quantidades de carne. “Me vê vinte quilos de costela!”, “Quero dez quilos de costelinha de porco!” Ah! E também sete quilos […]

A primeira vez de Rubinho no açougue

Rubinho foi ao açougue pela primeira vez. Nunca tinha visto nada parecido. No seu ideário meninil, o açougueiro não fatiava partes de animais, era como um mágico que concebia a carne a partir de dotes sobrenaturais. Bastaria reunir alguns ingredientes, e voilà, assim surgia a carne, corada e sem violência. “Falaram que a carne de […]

Um animal sem nome sem espécie

Há um animal, sem nome sem espécie. Único em seu gênero, repousa ao lado da macieira. Um homem assiste. Parece boi? Porco também não. Frango, galinha? Menos ainda. É bonito, espadaúdo. Mais do que isso aos olhos do homem – carnoso, delicioso. A fome emana o que a gana encana. Lindas e robustas maçãs caem […]