Veganismo não é sobre exaltar animais e menosprezar pessoas

Sim, o veganismo é sobre animais não humanos (Foto: Aitor Garmendia/Tras Los Muros)

Há pessoas que dizem que o veganismo ensina o respeito aos animais, mas desconsidera o respeito às pessoas. Há um equívoco nessa afirmação. Sim, o veganismo prioriza os animais não humanos. Afinal, é um imperativo moral que se volta em primeiro lugar ao direito dos animais à não subjugação, violência e morte em nosso benefício.

Mas isso não significa que veganos desrespeitem seres humanos ou não se importem com seres humanos. Porém, vamos considerar um cenário em que veganos desrespeitam pessoas. Seres humanos são seres complexos, têm suas peculiaridades e vicissitudes.

Veganos não são perfeitos nem reivindicam perfeição

Logo se você busca perfeição entre veganos, devo dizer que está buscando isso no lugar errado. Até porque perfeição não existe em nenhum contexto. Desrespeitar pessoas é algo que deve ser analisado sob um prisma mais abrangente. Quero dizer, a não ser que você veja alguém exercendo um desrespeito contínuo ou inerente, isso pode ser apenas uma manifestação equivocada e circunstancial.

Bom, um sujeito de quem você não goste, ou que você qualifique como “imbecil”, pode sim ser vegano. Afinal, ser vegano não isenta ninguém de ter falhas. Eu mesmo tenho muitas, e é exatamente por isso que não condeno quem defende os animais, mas carregue falhas em seu histórico.

Sim, os seres humanos podem se exaltar em seus discursos, praguejar a humanidade, criticar o descaso humano em relação aos animais não humanos; até mesmo xingar. Claro, há pessoas que se excedem, mas percebo que isso acontece quando somos levados pela emoção e pela situação, então não racionalizamos nosso discurso e agimos de forma impulsiva.

Estendendo nosso respeito

Mas isso não significa que uma pessoa seja ruim ou odeie, de fato, a humanidade. Afinal, não vivemos em pleno ostracismo. Nos comunicamos com alguém em algum momento, não? Ademais, o veganismo é feito por pessoas, logo há essencialmente um senso coletivista.

Além disso, todos podemos mudar (ou não), crescer, amadurecer, evoluir, o que quer que seja. Logo quem sou eu para dizer quem deve ou merece ser vegano ou não? O vegetarianismo ético, os direitos animais e o veganismo foram idealizados por humanitários. Sim, por pessoas que antes se preocupavam com seres humanos e entenderam que era importante estender isso aos seres não humanos.

Então não acho muito apropriado dizer que o veganismo ensina as pessoas a não respeitarem pessoas. A história está repleta de personagens protovegetarianos, vegetarianos, protoveganos e veganos que defenderam e defendem os animais humanos e não humanos – o que não significa que defender pessoas seja, de fato, uma premissa ou obrigação.

Em um cenário ideal

Henry Salt, por exemplo, um dos nomes mais importantes da era vitoriana na defesa dos animais e pioneiro da teoria dos direitos animais, foi o fundador da Liga Humanitária Inglesa.

Não podemos ignorar também que há inúmeras bandeiras específicas em defesa dos humanos, mas só uma em defesa dos animais, e realmente isso faz uma diferença não circunstancial, mas sim substancial.

Claro que em um cenário ideal seria muito bom se houvesse respeito aos animais humanos, não humanos, uma harmonia verdadeiramente abrangente. Mas creio que as coisas vão evoluindo com o tempo e com as nossas predisposições.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

2 respostas

  1. Muito pertinente seu texto. Aliás, tenho acompanhado as suas considerações sobre o assunto.
    Uma das coisas mais difíceis que enfrento é conversar a respeito com pessoas sem carga de informações que entabulem uma conversa racional, respeitosa e consciente, pra não dizer humanitária, palavra usada em muitos discursos hoje do “correto”…
    Para mim , ex andarilho e peregrino, ter a iluminação que tive, do conhecimento e da consciência, é dolorosa e lenta as transformações e transições dos hábitos práticos do dia a dia. mas chegarei lá. O mais importante é que considero que não tenho a supremacia de decisão de vida e morte dos animais.. No mais, como em outro texto seu, estou na luta de não ser escravo de meu paladar.
    Bons ventos para a sua mente e seu coração. Grande abraço.

  2. Parabéns pela matéria!
    Ser radical não é ruim como as pessoas dizem, é ter posicionamento, defender um propósito com afinco mas respeitando e aceitando o debate.

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