A caminho do matadouro

(Foto: Hannah Elizabeth/Sympathy at Slaughter)

É difícil imaginar quantas vidas passam por aqui. Indo de um lado para o outro – somente ida, sem volta. Uma prisão sobre rodas, que pouco permite observar o que existe ali fora. Não há retrato fiel – tudo entrecortado, quiçá arredondado. Quantas pessoas passam por você e te olham com brevidade? Um provável sem contas.

Talvez se assustem por segundos, ou não, mas seguem suas vidas. Incúria. Que sentimento ou impressão você tem da última jornada? Imagino a amplificação da incomunicabilidade. Todos amontoados, pávidos, fragilizados, esfaimados. Resta-te os olhos vacilantes.

Tudo gira lá fora, menos onde você está. Mudar de posição? Nem pensar, como não há. Será que o cheiro se intensifica com a apreensão, a incerteza? A sujeira se acumula no sobressalto. Sendo vítima, não se pode culpar. A imundície não é sua. Se cogitou fuga?

Difícil dizer, quando se é condicionado a algo desde o nascimento. A tradição da subjugação. Hoje é a sua vez. Amanhã serão outros, e assim por diante. Respiro ruidoso, cortininhas de fumaça e estocadas ou choques para subidas e descidas. Enche, esvazia. Carrega, descarrega. No limiar da vida, no leito da morte, já não resta nada que o conforte.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Uma resposta

  1. #libertaçãoanimal
    A humanidade está demorando muito para mudar a sua alimentação.
    Querem o mais prático e o mais barato e não se preocupam com a qualidade de vida e muito menos com o sofrimento dos animais.
    O homem precisa espiritualizar-se o mais rápido possível.

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