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Defesa dos animais não pode ser condicionada ao amor

Não amando animais, alguém não está fazendo nada de errado em não se opor à exploração animal?

Foto: We Animals

A defesa dos animais não pode ser condicionada ao amor. O amor é uma perspectiva reducionista na defesa dos animais. Conforme deixa-se claro para alguém que é “o amor pelos animais” a motivação para se opor à exploração de animais, é como você dizer que, não amando animais, então alguém não está fazendo nada de errado em não se opor à exploração. Afinal, na ausência do amor, o que resta, se a mudança depende desse amor?

Muitos discursos que antagonizam a exploração animal e que são reduzidamente condicionantes recaem no mesmo problema, porque estabelecem condicionais para uma mudança de atitude em relação aos animais. Então você exclui todos que não se veem como parte do grupo em inclinação à mudança que depende de uma característica ou inequívoca aptidão.

Isso é excluir o que Tom Regan chamou de relutantes, por exemplo, que são muitos. Sem dúvida, nem todas as pessoas, para não dizer muitas, dirão que há respeito a ser estendido aos animais, principalmente se o respeito significa não contribuir para exercer qualquer mal sobre esses animais, sendo o mal a privação, exploração (rotina baseada em interesses de outra espécie) e a morte, que é também privação – da própria vida e da cessação de potenciais prazeres.

Alguém pode dizer que não faz sentido estender respeito aos animais não humanos, porque seria uma antropomorfização, já que um animal não é capaz de compreender o sentido do respeito. Porém, sendo o respeito uma garantia à integridade física e consideração pelo que é imanente ao indivíduo, o animal não precisa entender o seu sentido para ser beneficiado.

Um problema em consequência da vinculação da não exploração com o amor é que mesmo hoje muitas pessoas acham que ser vegano é ser amante dos animais. Claro que pode haver muitos que são, mas muitos também não são, e não há nada de errado nisso.

Importante é reconhecer um animal não humano senciente como um indivíduo e permitir que ele seja expressão de si, ou que não seja trazido ao mundo para corresponder a interesses que não são seus. Ademais, o que é ser um amante dos animais quando essa ideia de animais traz no sentido comum uma percepção de que esses animais são os aprovados no crivo de uma seletividade?

Leia também “Ser vegano é uma forma honesta de respeito pelos animais“, “Não há respeito na exploração e no consumo de animais” e “Coetzee: ‘Animais não precisam do meu amor. Não me preocupo com amor, me preocupo com justiça‘”.

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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