Após quatro anos, o governo de Jair Bolsonaro termina com um aumento de 59,5% da taxa de desmatamento na Amazônia em relação aos quatro anos anteriores.
É a maior alta percentual num mandato presidencial desde o início das medições por satélite, em 1988. Bolsonaro superou até mesmo o aumento visto no primeiro governo FHC, quando o forte aquecimento da economia no início do Plano Real causou o maior desmatamento da série histórica, de 29 mil km2, em 1995.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a estimativa para o ano de 2022 é de 11.568 km2 devastados, área equivalente à da Jamaica. Apesar da queda de 11% em relação a 2021, é a segunda maior taxa em 13 anos nos nove estados da Amazônia Legal. A média anual sob o governo Bolsonaro foi de 11.396 km2, contra 7.145 km2 no período anterior (2015-2018).
“Pegou o país com uma taxa de 7.500 km2 de desmatamento na Amazônia e o está entregando com 11.500 km2“, diz o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini.
Os dados de 2022 revelam que o desmatamento no estado do Amazonas foi o único a ter aumento no corte raso neste ano. Foram derrubados 2.607 km2, um incremento de 13% em relação a 2021. O Pará, mesmo com a redução de 21%, ainda lidera o ranking, com 4.141 km2 desmatados em 2022.
Segundo o Observatório do Clima, a tendência atual no Amazonas, caso nada seja feito, é que se repita no eixo da BR-319 a tragédia ocorrida no entorno da BR-163 (Cuiabá-Santarém), no Pará, que se transformou no epicentro do desmatamento no começo do século.
Astrini frisa também que é preciso ficar atento a uma série de projetos de lei conhecidos como “Pacote da Destruição”, que visam anistiar a grilagem de terras e a eliminação do licenciamento ambiental.
“O governo Bolsonaro acabou, mas a aliança entre o bolsonarismo e a banda podre do ruralismo permanece no Congresso e no chão da floresta”, diz Astrini.
O coordenador técnico do OC, Tasso Azevedo, revela que o consórcio MapBiomas encontrou indícios de ilegalidade em 98% dos desmatamentos em 2021, e os órgãos de controle só atuaram em 27% da área desmatada. “A impunidade ainda predomina e precisa ser enfrentada com determinação no novo governo.”