Aquário é um espaço onde colocamos animais para observarmos quando quisermos. Eles estão sempre ali. Afinal, para onde poderiam ir, se o aquário é um espaço de confinamento perene? E a ideia de que podem ser vistos por nós o tempo todo endossa a crença de que estão sempre disponíveis.
Mas o animal estar ali significa que está disponível? Ou somos nós que criamos a crença da disponibilidade? Há uma diferença entre um animal estar ao nosso alcance porque o confinamos e ele estar disponível como se sua existência fosse a de reconhecer-se como disponível ao ser humano.
Quem nunca percebeu em um aquário um peixe alheio ao interesse humano, embora ele não possa desvencilhar-se desse interesse? Como crianças que o provocam para chamar-lhe a atenção. Intrigante também é a normalização de aquários repletos de peixes como parte da decoração. Ou seja, o peixe é valorizado como parte do cenário, não escapando à instrumentalização.
A aquisição de peixes porque são “animais que não fazem barulho e não podem reclamar” também é evocativa de uma atribuição de inferiorização. Muitas pessoas veem o peixe como “elemento de uma tela”, um adido estético, em que a justificativa para tê-lo é fazer algo que justifique ser assistido ou que seja tão silencioso que não pareça estar ali – como o vivo não tão vivo.
É o ser o animal que desejo como animal, e incapaz de escapar de minha interação. Claro, muitos peixes não sobreviveriam na natureza, até porque foram criados para ambientes não naturais, mas não é intrigante como a vida desses animais é sobre nós e não sobre eles? É sobre o peixe à medida em que não é mais do que sobre mim.
O mundo do peixe no aquário é também o mundo humano em que ele foi confinado – as formas, o tamanho, a quantidade possível de água. O peixe difere do pássaro criado para a gaiola como uma impossibilidade? Penso no que é esse ser criado para não escapar ao anseio humano. É um justo viver?
Será que quem criou os primeiros aquários não os fez para provocar os peixes? Mostrando a eles que o tamanho de seu mundo é parte de uma hierarquização de significância para quem sobre eles pode imperar.