“One Piece”, tanto no mangá quanto no anime e no live action lançado pela Netflix, tem um personagem que favorece uma discussão sobre o especismo.
Embora seja percebido como um dos grandes vilões do East Blue, são seus discursos que constroem uma contestação do supremacismo humano. Arlong, o líder dos piratas da espécie homens-peixe questiona o domínio humano sobre outras espécies.
No entanto, em vez de reivindicar um tratamento de igualdade ou de igual consideração de interesses, seu intento, em retaliação pelo que ele qualifica como “mal humano”, é subverter o domínio humano por meio da submissão dos seres humanos ao domínio de sua própria espécie.
É notório que, por inerência, já que Arlong é parte humano, ele não se desvencilha de uma ideia de violento domínio consciente sobre outras espécies, e não só pela insurreição, o que traz em si também uma crítica do que é apontado como “mal humano”.
Arlong diz que os humanos exploram e escravizam os homens-peixe por considerá-los inferiores, como criaturas que existem para servi-los. A crítica feita por Arlong, se olharmos para a realidade, não é difícil perceber que vale para muitas espécies submetidas ao domínio humano.
Mas, para Arlong, os “humanos devem pagar pelo que fizeram e fazem com sua espécie”. Ele é colocado como vilão por prejudicar humanos inocentes nesse processo, e por ser apontado como alguém que também é motivado por interesses próprios.
Porém não são os humanos que exploram animais ou que financiam essa exploração que prejudicam também “criaturas inocentes”? E não são muitos deles também motivados por interesses próprios como lucro, predileção e paladar?
Embora Arlong seja colocado como um líder pirata que “deve ser parado”, isso não muda o fato de que ele é também um sujeito que se é opressor surge como fruto da própria opressão. O desígnio de Arlong leva a uma consideração sobre a seguinte reflexão:
E se uma “espécie superior” chegasse à Terra e exercesse o mesmo domínio que tantos humanos consideram aceitável exercer sobre outros animais? Veríamos o que fazemos com a mesma seletiva e relativista empatia?