Alguém diz que a violência contra animais não humanos deve ser combatida porque favorece a violência contra humanos. A violência contra não humanos realmente pode culminar em violência contra humanos, mas esse não é um argumento especista se digo que essa violência deve ser combatida por causa das consequências para humanos?
Por que não apenas reconhecer que a violência contra animais não humanos deve ser combatida porque é injustificada? Porque é uma desconsideração dos interesses básicos de uma criatura senciente. Para antagonizar tal violência, preciso ter como baliza os danos humanos?
Isso é secundarizar o impacto da violência para esses animais, evocar uma consideração que depende de outro princípio de consideração – mensurar a gravidade do impacto ao não humano a partir do impacto ao humano.
Entendo que quando alguém fala em evitar uma violência contra um animal para não resultar em uma violência contra um humano a motivação é propor um olhar sobre as possibilidades de relação de violências.
No entanto, se quero que olhem para a violência contra outros animais por associação à violência contra humanos, o olhar sobre a primeira violência é o olhar condicionado à segunda violência. Assim posso fortalecer uma ideia antropocêntrica de que é preciso olhar para o interesse não humano conforme reconheço que esse interesse também me afeta.
Mas se sou da opinião de que ignorar o interesse não humano não me afeta, então não rejeito as possibilidades de validar a importância desse interesse pelo argumento apresentado?
Afinal, esse tipo de reflexão depende também da dimensão de importância que alguém atribui ao impacto da violência por associação, e quais tipos de violências considera ou não aceitáveis em relação aos animais não humanos.
O combate à violência contra outros animais porque leva à violência contra humanos é como dizer, ainda que não seja a intenção, que opõe-se à violência contra outros animais porque pensa não nesses animais, mas nos humanos que serão prejudicados pelo que possibilita a violência que atinge não humanos.