Por que não reconhecemos o mal que causamos aos animais?

Foto: Jo-Anne McArthur/We Animals

Temos uma consciência que permite-nos reconhecer quando causamos um mal a um animal, ainda que o animal possa ser criado para não compreender o que fazemos como um mal. Mas e quando nos condicionamos a crer que o que fazemos não é um mal?

A ideia, por exemplo, de que criar um animal para consumo seja um mal evoca estranheza e absurdidade para muita gente, possivelmente para a maioria, porque a ideia de alimentar e ser alimentado é como dissonante e antagônica a essa compreensão como um mal.

Afinal, é possível questionar-se sobre como saciar o seu apetite ou de outrem pode ser um mal. Como ter uma predileção por um alimento preparado com tanto esmero pode ser um mal? Há todo um cuidado na cozinha, com maneiras de cortar, combinar, preparar e temperar.

“Não vejo um mal, mas um bem que é sentir e reconhecer nos outros uma satisfação”, alguém pode dizer e mostrar-me com um grande sorriso uma mesa com partes distintas de animais e derivados que podem ou não evocar origens.

O sorriso e o conjunto de expressão momentânea, que podem repetir-se por um sem-número de vezes, são alusivos da não conexão com a ideia de um mal. Enfim, acredita-se em um “mal ausente” ainda que diante do que significa “vida ausente”.

E a “vida ausente”, mesmo que apontada pode não ser interpretada como um mal, e sim como resultado de uma instrumentalidade funcional, que é saciar uma vontade, que muitas vezes, como endosso de continuidade, também é definida como “necessidade”.

E as pessoas comumente não permitem, em suas associações mentais, que uma percepção colidente torne-se emergente. Então o mal, que aqui reconheço como mal por suas implicações intrínsecas de violações às vítimas animais, é rejeitado não apenas por ser o que é, mas também pelo que pode ser, sob uma perspectiva de favorecimento excludente/includente.

Porque isso demanda permitir-se a retirada desse ciclo de obliterações para ingressar em outro que permita uma consideração mais abrangente de hábitos prescindíveis de violência, que também pode ser percebida como reação de extensão/inclusão moral.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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