20 mil animais embarcam para a morte na Turquia

Cada um desses animais, independente de origem, normalmente é forçado a uma jornada que dura pelo menos três semanas para morrerem em outro país (Foto: Reprodução)

Aproximadamente 20 mil animais estão embarcando para a morte na Turquia. Hoje o navio Ocean Shearer, considerado o maior de transporte de gado vivo do mundo, está atracado no Porto de São Sebastião (SP) para receber mais cerca de oito mil bovinos que serão abatidos na Turquia, seguindo os preceitos do abate halal, ou seja, sem insensibilização.

O navio já conta com mais de 12 mil animais enviados de fazendas do Rio Grande do Sul. É difícil não considerar que quando submetemos animais a esse tipo de situação simplesmente porque gera lucro provamos o quanto o dinheiro está acima da dignidade e da capacidade em reconhecer que vidas não deveriam valer tão pouco.

E cada um desses animais, independente de origem, normalmente é forçado a uma jornada que dura pelo menos três semanas para morrerem distantes do local onde nasceram. Vivem o não viver e morrem sem tempo de se reconhecer.

Qual seria o sentimento predominante quando são empurrados para o fosso da desfaçatez e da miséria humana? Se sucumbem a bordo, são moídos, se escapam de um acidente, morrem afogados ou são abatidos pouco depois de chegarem às margens. E se aportam em “segurança” são engordados e preparados para o abate sem insensibilização – golpe em forma de meia lua que faz o sangue jorrar enquanto se debate.

É o que acontece com frequência em 20 países do mundo que exportam quantidades surpreendentes de animais vivos criados para consumo – milhares, dezenas de milhares e que somam milhões ao final do ano. Só o Brasil enviou cerca de 700 mil bovinos para a morte em outros países em 2018, com o Porto de São Sebastião respondendo por 150 mil animais.

Recentemente o presidente da Associação Brasileira de Exportadores de Animais Vivos (Abreav) disse que para os próximos anos, com mais apoio do governo, a projeção é de aumento de 25% na comercialização de gado vivo que parte do Brasil.

Acredito que mais sujo do que um navio de exportação de “carga viva”, ainda que na inobservância pareça limpo, é o dinheiro que se lucra com essa violência contra a dignidade não humana. Se refletisse profundamente a respeito, como você se sentiria em ser dono de uma “carga” de milhares de animais submetidos a uma vida miserável para que possa encher os bolsos de dinheiro?

Uma atividade sem real impacto social positivo, e que existe como consequência de vivermos em um mundo onde uma minoria cria bilhões de animais por ano para alimentar “todos” aqueles que não são pobres demais para pagarem por isso. A carne enquanto produto é um insulto moral, uma direta e simbólica representação da arbitrariedade.

Brasil vive momento de crescimento nas exportações de gado em pé

A Câmara de Comércio Árabe-Brasileira divulgou recentemente que o Brasil vive um momento de crescimento nas exportações de gado em pé para países árabes.

“No caso do gado, seis dos dez maiores mercados do Brasil no mundo são árabes: Iraque, Egito, Líbano, Jordânia, Arábia Saudita e Emirados”, informou a Câmara e acrescentou que no geral as exportações aos países árabes aumentaram em 27% em julho.

Em setembro, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina viajou para o Egito, Arábia Saudita, Kuwait e Emirados Árabes para estreitar relações comerciais.

Segundo a Agência de Notícias Brasil-Árabe, a ministra já declarou que “o Brasil tem nos países árabes um bom destino para gado em pé” e defende que o mercado brasileiro também receba mais produtos de países árabes.

Para baratear custos com a exportação de gado em pé, a ministra disse que uma possibilidade é garantir que os navios de “carga viva” retornem ao país trazendo fertilizantes. “Se a gente tiver essa mão de volta, com certeza teremos fretes mais baratos”, disse.

O Brasil já fechou acordos de exportação de gado em pé em 2019 para países como Cazaquistão, Laos e Vietnã, além de negociar ampliação de exportação de gado vivo para Egito, Turquia, Jordânia, Iraque, Líbano e Irã.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

3 respostas

  1. “EXPORTAÇÃO”
    Para criar uma elevada probabilidade de ressurgimento de doenças que se julgava controladas, emergentes ou reemergentes, ou oriundas de mutações de vírus e bactérias, teríamos que juntar milhares de animais em condições sanitárias deterioradas, por muitos dias, em estresse e com queda de imunidade, subalimentados, e circulá-los pelo mundo.

    Mas, viriam as perguntas. A) Quem propositadamente faria isso? B) Onde?
    Respostas: A) A pecuária brasileira. B) No navio Nada. E noutros.

    Assim, ao enviar carga viva à Turquia, em navios com altíssimos níveis de colonização de microrganismos, um pequeno, equivocado e oportunista setor da pecuária brasileira, aético e abusivo de animais, poderia estar enviando também “saudações aftosas” àquele país, ou outras e novas doenças, e com isso inviabilizando futuras exportações de carne do Brasil.

    Os pecuaristas brasileiros não deviam permitir que essas embarcações “laboratório” sequer se aproximassem da costa brasileira, quanto mais aportar.

  2. O Brasil é uma vergonha….só permitem essa crueldade pois vendem os animais mais barato e com o abate cruel sem qq critério em outros países, ajudam os trabalhadores locais dos outros países. Se tivéssemos um Governo de boa índole, jamais teríamos permitido essa abominação. Pena que nosso atual Presidente aumentou ainda mais essa crueldade para países da Ásia, inclusive jumentinhos e cavalos. Nem dá para comentar mais pois corro o risco de ser pejorativa e imoral em meus comentários…

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