Vegetais eram a principal fonte de proteínas dos antigos egípcios

Eles consumiam grandes quantidades de ervilhas, lentilhas e feno-grego

De acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Lyon e publicado no periódico científico Journal of Archeological Science, vegetais eram a principal fonte de proteínas da maioria dos antigos egípcios que viveram entre 1,5 a 5,5 mil anos atrás.

A conclusão é baseada em análises dos dentes, ossos e cabelos de dezenas de múmias egípcias. Os pesquisadores utilizaram isótopos estáveis de carbono, nitrogênio e enxofre para identificar o tipo de dieta predominante à época.

Segundo eles, pode-se concluir que a maioria dos antigos egípcios do período analisado tinha uma alimentação baseada principalmente em vegetais, inclusive como fonte de proteínas. Eles consumiam muitos cereais, legumes, verduras e leguminosas.

Entre os alimentos citados pelos pesquisadores como parte da alimentação regular dos antigos egípcios estão o trigo, cevada, cebola, alface, ervilhas, lentilhas e feno-grego.

Mesmo que a pesca tenha sido retratada em pinturas egípcias, o consumo de peixe, segundo os pesquisadores, não era tão comum quanto podemos concluir com base nessas pinturas.

Além disso, o que também reforça que eles tinham uma dieta predominantemente à base de vegetais é que os pesquisadores identificaram proporções de isótopos do cabelo das múmias que correspondiam aos de vegetarianos europeus modernos.

Abstenção do consumo de animais e consideração pelos animais 

Podemos lembrar que o filósofo Pitágoras, que viveu há 2,5 mil anos e se tornou uma referência sobre a abstenção do consumo de animais na Grécia Antiga, foi influenciado pelos egípcios, de acordo com o livro “O espelho de Heródoto: Ensaio sobre a representação do outro”, do historiador François Hartog.

Além disso, o filósofo Plotino, que nasceu no Egito há mais de 2,2 mil anos e que foi mestre de Porfírio, é autor das “Enéadas”, em que ele declara que os animais sentem dor, prazer e têm sentimentos. Também evoca a importância de uma empatia que não envolva somente humanos.

Em “Os Ensaios”, o filósofo Michel de Montaigne relata que “os egípcios enterravam os lobos, os ursos, os crocodilos, os cães e os gatos em lugares sagrados: embalsamavam seus corpos e ficavam de luto pela morte deles”.

Schopenhauer também faz referência semelhante em “O mundo como vontade e representação”, quando cita que os antigos egípcios estavam acostumados a colocar um crocodilo, entre outros animais, na mesma abóbada com a múmia humana.

“Na Europa, é um crime, uma abominação, enterrar um cão fiel no mesmo local onde repousa seu mestre, embora seja lá que talvez ele, com uma fidelidade e um apego desconhecido pelos filhos dos homens, aguardasse seu próprio fim.”

O filósofo neopitagórico Apolônio de Tiana também cita os egípcios como exemplo de que não é preciso usar os animais como matéria-prima para o vestuário, ao referenciar o linho produzido pelos egípcios, conforme sua biografia “A vida de Apolônio de Tiana”, escrita por seu discípulo Flávio Filostrato.

Sobre a análise de isótopos

A análise de isótopos é uma ferramenta utilizada na arqueologia para reconstruir a dieta de povos antigos. É baseada na medição de proporções de isótopos estáveis (como carbono, nitrogênio e enxofre) em restos humanos (ossos, dentes, cabelo) ou em resíduos alimentares.

Clique aqui para ter acesso ao estudo “Diet of ancient Egyptians inferred from stable isotope systematics“.

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Jornalista (MTB: 10612/PR), mestre em Estudos Culturais (UFMS) com pesquisa com foco em veganismo e fundador da Vegazeta.

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