A “ausência de voz” e a perpetuação da exploração animal

A exploração de animais associa-se também à ideia da “ausência de voz”, porque os outros animais, não sendo como nós, que entendemos como “sujeitos de voz”, e não apenas por um exercício de vocalização, são percebidos como “criaturas sem voz” e que, portanto, na “inabilidade de reclamarem direitos” também são vistos como criaturas que prescindem de direitos.

Ainda há uma crença homocêntrica dominante de que direitos devem ser concedidos a quem pode reclamar por eles e/ou reconhecê-los. Isso é algo estranho de se considerar porque quando bebês também não podemos reclamar direitos nem reconhecê-los; e nossas queixas podem ser alvo de incompreensão e dissimulação, já que nessa fase ainda não somos “sujeitos de verbalização constituída”.

E não posso dizer que muitos animais não são mortos em uma fase da vida em que podemos reconhecê-los como vítimas que são abstraídas de suas próprias infâncias pela violência humana sustentada por disposições de consumo.

E o que dizer de humanos que, por motivos diversos, sejam entendidos como limitações ou não, também não podem ou são impossibilitados de reclamar direitos sem a intervenção de alguém? São sujeitos indignos de direitos?

A ideia de “animais sem voz” tem dois vieses. O primeiro é que podemos entender “animais sem voz” como aqueles que não são ouvidos ou reconhecidos, logo necessitam que seus direitos sejam reivindicados por membros da espécie que os mantêm privados de direitos, logo cativos.

O segundo é que não existe “animais sem voz”. “A não voz” é uma construção em que entendemos como voz aquilo que reconhecemos como parte de nós, mas não dos outros, numa subtração de significância que ignora o caráter da diferença.

Em relação aos animais que exploramos, a voz, entendida como uma presença ou uma ausência, reconhecida ou não, permite muitas interpretações. É importante tentar perceber quais são suas possíveis associações. Por exemplo, nossa percepção prevalente é contributiva ou obstrutiva?

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *