Agostinho da Silva: “Animais não são nossos escravos”

“Considero-me uma pessoa que tenta ser o mais simples possível” (Foto: Getty)

Em 1990, o filósofo, poeta e ensaísta português Agostinho da Silva foi entrevistado por Herman José no programa “Conversas Vadias”, da Rádio e Televisão de Portugal (RTP), de Lisboa. Na ocasião, o apresentador perguntou a Agostinho como ele se alimentava, que tipo de cuidado ele tinha com a alimentação para ter chegado aos 84 anos “em forma estupenda”.

O filósofo deixou claro que não tinha nenhum cuidado em especial com a alimentação, simplesmente evitava comer animais. “Evito comer animal, coitado do bicho, que culpa tem ele que eu exista?”, declarou quando José o questionou sobre o motivo.

Outra curiosidade é que o pensador recusava que o chamassem de guru, visionário ou profeta. “Considero-me uma pessoa que tenta ser o mais simples possível, que deixa que a vida lhe traga os problemas que vai tentar resolver se puder. Mais nada”, respondeu a Herman José.

Agostinho da Silva é tema da biografia “O Estranhíssimo Colosso”, de António Cândido Franco, lançada em 2015 pela Quetzal Editores, de Portugal. Como citado pelo autor, segundo Agostinho, “os animais são nossos companheiros, não nossos escravos”.

Contribuições no Brasil

O livro dividido em quatro segmentos aborda também o vegetarianismo do filósofo português que ficou famoso por andar indocumentado, prezar pela liberdade em suas mais variadas formas e dedicar sua vida a seguir na contramão da “normalidade”.

De acordo com António Cândido, Agostinho da Silva mudou-se para o Brasil em 1947, instalando-se em São Paulo e depois na Serra da Itatiaia, no Rio de Janeiro. Enquanto estudava entomologia, trabalhou no Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e lecionou na Faculdade Fluminense de Filosofia (FFF). Entre os anos de 1952 e 1954, foi professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa.

Em parceria com o médico, historiador e escritor português Jaime Cortesão realizou um grande trabalho de pesquisa sobre a vida do diplomata brasileiro Alexandre de Gusmão. Agostinho continuou no Brasil até 1969, então retornou a Portugal, onde viveu até falecer em 3 de abril de 1994.

De acordo com o professor Nuno Sotto Mayor Ferrão, Agostinho da Silva foi não apenas um intelectual, mas também um empreendedor, já que no Brasil empenhou-se na criação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade Nacional de Brasília (UnB). “Ele também criou centros de estudos que ampliaram a compreensão da importância da lusofonia”, enfatizou Ferrão.


Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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