Animais criados para consumo morrerão cada vez mais cedo

Galináceos, suínos e bovinos já morrem muito cedo, mas tudo leva a crer que a situação pode piorar (Fotos: Andrew Skowron/Gabriela Penela)

Não é novidade que animais criados para consumo têm vidas curtas. Basta pensarmos em frangos abatidos com pouco mais de um mês, porcos que não completam meio ano de vida e em bovinos que, no “melhor dos cenários”, mal chegam à fase adulta e já são encaminhados ao matadouro.

Aqueles que são criados com outras finalidades, como produção de ovos ou leite, também não escapam desse fim quando considerados “pouco produtivos”. Suas vidas têm estranhos limites, e isso é determinado pelo quanto são “mais valiosos vivos do que mortos”.

Animais criados para consumo têm, no contexto e perspectiva da produção pecuária, apenas “vida útil” ou “vida comercial”, porque suas vidas são desconectadas de qualquer valor não comercial. Exemplo é que a percepção de envelhecimento animal na pecuária não é uma percepção honesta do que significa envelhecer.

Para um animal ser considerado velho ou muito velho, ele teria que estar em uma fase convergente ou próxima ao limite de sua expectativa média e natural de vida, o que não ocorre na pecuária industrial, responsável pela maioria dos alimentos de origem animal consumidos no Brasil e no mundo.

Ainda assim, não é incomum alguém falar em “animal velho” em referência a um animal que não é velho, mas que em decorrência do sistema de produção ao qual foi submetido desenvolveu problemas que em condições naturais, ou seja, alheias à exploração, surgiriam apenas em um animal idoso.

Única velhice possível 

Se pensarmos agora apenas em galináceos, considerando que os frangos são mortos com 35 a 40 dias e as galinhas poedeiras com um ou dois anos, o que isso te diz sobre a velhice animal? São animais com potencial para chegar facilmente aos dez anos quando não sofrem as consequências da exploração. Em granjas, e com “sorte”, galinhas poedeiras vivem um quinto de suas expectativas de vida.

Se fôssemos explorados para consumo como esses animais, muitos dos que estão lendo este texto, incluindo eu mesmo, já não estariam vivos porque seriam abatidos logo que se tornassem adultos, ou talvez um pouco antes, como ocorre com os bovinos que são encaminhados ao matadouro com base no peso e qualidade de suas carcaças.

Cito tal exemplo como convite a uma reflexão sobre como esses animais vivem pouco em consequência de hábitos alimentares humanos. Não há velhice para eles. E nenhum de nós jamais diria que quando não fôssemos considerados úteis a um sistema que visa lucro deveríamos ser mortos ou abatidos. Isso não parece arbitrário e chocante?

A única velhice possível para os animais usados na indústria alimentícia é a precoce, que surge muito cedo em consequência de imposições que favorecem constantes alterações metabólicas, privações e sofrimentos regulares que não ocorrem com animais que levam uma vida longe da exploração.

Tendência é viver menos 

Não é preciso ser especialista da área pra entender isso, mas apenas um senso de percepção aliado à empatia. Um animal criado com fins alimentícios jamais terá a qualidade de vida de outro animal criado em um cenário completamente diferente.

Afinal, assim como nós, eles também reagem às condições do ambiente e as influências externas às quais são submetidos, assim como às imposições diárias que envolvem não expressar-se naturalmente, até porque coibição de comportamentos inerentes é prática comum.

Não podemos ignorar que quanto maior a demanda por carnes, ovos, laticínios e outros alimentos e produtos de origem animal, mais animais terão vidas miseráveis e viverão menos. Compare a idade com que os animais são abatidos hoje com a década passada ou retrasada e perceberá uma diferença bem significativa.

Animais serão mortos com que idade?

Somente a indústria de carne é responsável por 80 bilhões de animais mortos ao ano,  como já destacado por algumas organizações em 2021, e isto porque hoje temos uma população de 7,87 bilhões e um número de consumidores que compra e consome essa produção amparada na subjugação de outras espécies.

Com uma estimativa de que a população global chegará a dez bilhões até 2050, como já divulgado pela ONU, o que podemos esperar? Com que idade esses animais serão abatidos em 10, 20 e 30 anos se não repensarmos nosso consumo? Por quais novos tipos de privação eles passarão nas próximas décadas?

Mais pessoas vivendo neste mundo exigirá maior disponibilidade de alimentos em menor período de tempo, e se for às custas da vida dos animais, não tenho dúvida de que o sistema industrial de hoje não será equiparável ao que teremos nas próximas décadas em relação às desconsiderações morais e éticas do consumo de animais.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *