Animais não deveriam ser vistos como pedaços de carne

Ainda que sejam criados para o abate, estavam lá, vivendo como podiam, ou como lhes era permitido dentro da lógica de mercado seguida por mim (Fotos: iStock/The Humane League)

Vamos considerar que eu esteja criando bovinos para consumo e permita que vivam por dois anos e meio antes de enviá-los para o abate. Ou seja, sei que tenho um número x de bois com essa idade e que agora chegou a hora de reduzi-los a pedaços de carne. Afinal, quero receber pelas despesas que tive ao longo desse período e também quero garantir lucro.

Nesse ínterim, esses animais conviveram com outros bovinos e com pessoas (que trabalham no ramo). Eu também tive contato com eles, em menor ou maior proporção. Ainda que sejam criados para o abate, estavam lá, vivendo como podiam, ou como lhes era permitido dentro da lógica de mercado seguida por mim.

Afinal, todos os ciclos de suas vidas são planejados com base nisso. Viver mais ou viver menos é uma questão do quanto é possível lucrar com o animal. Atingiu o peso ideal de carcaça? Qual é o meu público-alvo?

Se deixo um animal viver alguns meses a mais, não faço isso porque quero prolongar sua vida, mas porque ele ainda não é visto por mim como um produto nas melhores condições de lucro. Esta é a realidade comercial padrão, tradicional.

Animal como um “produto com vida”

Ao criar um animal como um “produto com vida”, o que se espera é que essa vida não humana seja, sob um viés econômico, vantajosa, porque o que não é vantajoso quando falamos em criação de animais para consumo é “descartado” o quanto antes, seja para não gerar prejuízo ou para obter algum retorno que permita reduzir algum tipo de despesa.

Pensando nisso, não parece que estou falando de vidas, parece? Realmente não, e porque muitas pessoas ainda creem que, animais, embora cheios de vida e energia, assim como nós, são tão belos vivos quanto mortos. Ou seja, também em pratos ou despersonalizados e pendurados em ganchos de frigoríficos ou açougues.

A insensibilização da nossa consciência em relação às espécies que subjugamos é o que permite ver um animal nascer, crescer e enviá-lo para a morte para ser fracionado em tantas partes que dão origem a um “mapa da violência” com mais de 20 cortes comercializáveis.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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