Até três trilhões de animais aquáticos são capturados na natureza por ano

Hoje, cerca de 93,8% das populações de peixes são pescadas muito além de um limite considerado sustentável (Foto: Chris Furlong/Getty)

O apetite da humanidade por animais aquáticos, principalmente peixes, demanda uma importante reflexão sobre nossos hábitos de consumo. Afinal, até três trilhões desses animais são capturados na natureza por ano, de acordo com um levantamento divulgado este mês pelo Aquatic Life Institute. Além disso, cerca de 100 bilhões são criados em cativeiro por ano para consumo.

Ainda assim, a captura e surpreendente matança de tantos animais não ajuda a tornar o mundo um lugar melhor, com mais qualidade de vida, mais sustentável. Muito pelo contrário, já que gera uma variedade de impactos indesejados. E imagine como será com uma população global de dez bilhões até 2050?

Hoje, cerca de 93,8% das populações de peixes são pescadas muito além de um limite considerado sustentável, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Isso significa que apenas 6,2% são consideradas “subexploradas”.

Outro problema é que de um terço à metade dos peixes capturados na natureza são utilizados como ração para peixes criados em cativeiro. Um salmão confinado, por exemplo, demanda até 120 anchovas para atingir o peso considerado satisfatório para comercialização, segundo o Aquatic Life Institute.

Mais de 35 vezes a imensa quantidade de animais terrestres

Além do impacto ambiental, alterações negativas nos ecossistemas aquáticos em consequência da sobrepesca, que tende a se acentuar, é preciso ponderar que três trilhões de animais aquáticos retirados da natureza equivalem a mais de 35 vezes a imensa quantidade de animais terrestres enviados aos matadouros por ano.

Os animais aquáticos são ainda mais negligenciados por um fator de dissociação, já que as pessoas reconhecem menos semelhanças com eles do que com aqueles criados pela pecuária, dificultando também consideração sobre seus inerentes interesses, que envolvem não ser capturado, não ser privado, não ser asfixiado; enfim, não sofrer.

“Amplas evidências mostram que muitos animais aquáticos comumente capturados e criados têm a capacidade de sentir dor e sofrer exatamente como os animais terrestres. Acreditamos que uma ação urgente é necessária para mudar a forma como pensamos sobre eles e começar a levar em consideração o seu bem-estar”, diz o Aquatic Life Institute.

O que também é preciso considerar

Embora a humanidade resista a reconhecer a senciência dos animais aquáticos a ponto de aceitar que devemos mudar a maneira como nos relacionamos com eles, qualquer pessoa que já testemunhou a captura de um peixe com atenção tem lembranças de seu sufocamento, de sua luta em livrar-se da situação. Afinal, se não fosse algo terrível e doloroso, por que ele resistiria?

Outras questões também devem ser ponderadas. Um estudo divulgado pela revista NewScientist revelou que hoje, em consequência do impacto humano no meio ambiente, os peixes marinhos carregam 283 vezes mais parasitas do que em 1980. O fato de alguém não consumir animais capturados na natureza não significa que eles não foram utilizados para alimentar peixes criados em cativeiro.

Também há inúmeros estudos evidenciando a capacidade desses animais de sofrer. Um exemplo pode ser encontrado em “Fish experience pain with ‘striking similarity’ to mammals”, da pesquisadora Lynne Sneddon, do Instituto de Biologia Integrativa da Universidade de Liverpool, na Inglaterra, que aponta que os peixes hiperventilam e deixam de se alimentar quando estão sofrendo.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Uma resposta

  1. Até quando as pessoas continuarão a se alimentar de animais? Há urgência em reformular também livros de receita que incentivam essas práticas.

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