Bovinos estão morrendo mais cedo no Brasil

(Imagem: Aitor Garmendia/Tras Los Muros)

O Brasil não se tornou o maior exportador de carne bovina do mundo apenas por ter o maior rebanho de gado, mas também porque há décadas vem reduzindo a idade com que os animais são abatidos, e isso não diz respeito apenas aos bovinos.

Mas, no momento, prefiro falar sobre esses animais que são mortos o tempo todo no Brasil e têm suas carnes comercializadas em pelo menos 180 países. O mundo hoje sabe que não há outra nação que abasteça mais o mercado global de carne vermelha do que o Brasil.

Mas a que preço? Muitos bovinos, antes mortos com cinco anos de idade, hoje não chegam aos três anos, o que significa uma queda de expectativa de vida no contexto da pecuária de pelo menos 40% nas últimas décadas.

Pecuaristas atribuem essa “conquista” ao “melhoramento genético”. Ou seja, animais estão engordando mais rápido, o que ajuda a amplificar o lucro em um mundo com um grande apetite por carne.

Além disso, em 2019 alguns países começaram a oferecer aos pecuaristas brasileiros R$ 4 a mais pela arroba de bovinos mais jovens, e neste caso com menos de dois anos de idade – por considerar a carne desses animais “mais macia” e “mais “saborosa”.

O que acontecerá na próxima década?

Isso explica também porque surgiram programas de abate cada vez mais precoce de bovinos no Brasil. Ou seja, isso significa que o tempo de vida dos animais é baseado nos interesses do mercado – no custo-benefício para os criadores de gado. Se é mais lucrativo matá-los mais jovens, assim será feito.

Imagine, nesse ritmo, com que idade a maior parte dos bovinos chegará ao matadouro na próxima década no Brasil. Com uma população mundial crescente, não há dúvida de que o rebanho será muito maior se não houver uma mudança substancial de hábitos alimentares.

Além da questão ética intrínseca à violência do abate, a produção e consumo de carne favorecem o aumento da demanda por pastagens, cultivo de grãos para alimentar animais que serão abatidos, água e outros recursos naturais.

Tudo isso amplifica o desmatamento, queimadas, poluição, emissões de gases de efeito estufa, etc. Será realmente que o apetite humano por carne é justificável diante disso tudo?

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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