Brasil é o terceiro país que mais mata suínos

Idade já não é prioridade, mas sim fazer o animal atingir pelo menos o peso mínimo para abatê-lo (Foto: Aitor Garmendia/Tras Los Muros)

No ranking de países que mais matam suínos, o Brasil ocupa o terceiro lugar, perdendo somente para a China e os Estados Unidos. O que garantiu ao Brasil essa posição é a matança anual de quase 50 milhões de porcos.

Do total, 80% desses animais são abatidos para consumo interno, ou seja, têm suas carnes comercializadas em açougues e supermercados do país, conforme dados divulgados este mês pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

A União Europeia é a segunda maior produtora de carne suína do mundo, logo atrás da China. No entanto, o seu total anual de abate é elevado porque a UE é composta por 27 países.

Para garantir um número elevado de abates, o Brasil também tem enviado para o matadouro muitos suínos não somente com seis meses de idade, mas também com quatro ou cinco meses. Idade já não é prioridade, mas sim fazer o animal atingir pelo menos o peso mínimo de 90 quilos para abatê-lo.

Recorde em matança de suínos

Em 2020, o Brasil bateu recorde em matança de suínos com um aumento de 6,4% em relação a 2019, e média de 4,10 milhões de porcos abatidos por mês, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Como se o número já não fosse alto o bastante, um projeto de lei que está tramitando na Câmara visa tornar obrigatória a oferta de carne de porco na merenda das escolas de todo o país – o que é uma estratégia para beneficiar criadores de porcos.

O deputado Afonso Hamm (PP-RS), autor do PL 4195/2021, diz que a intenção é “propiciar melhor qualidade de vida aos estudantes e oferecer aos produtores garantia de escoamento da produção”.

Vale lembrar que no sistema industrial de produção, além do corte de cauda e de dentes, prática usual e sem anestesia, o desmame ocorre de maneira forçada quando os porcos têm de 18 a 21 dias de vida.

É algo extremamente precoce, considerando que em condições naturais um suíno deixa de mamar de forma gradual com três ou quatro meses de idade.

Quanto maior a demanda, maiores as implicações 

As privações impostas aos porcos, assim como outros animais criados para consumo, tendem a ser maiores onde há uma grande demanda, já que o objetivo de disponibilizar a carne no mercado no menor prazo possível determina que tipo de tratamento será dado aos animais e o que será feito para garantir que engordem mais rápido.

No Brasil, que é um dos países que mais mata suínos, a tendência é que isso se agrave. Outro problema associado à criação de porcos para consumo é o uso excessivo de antibióticos, e não apenas para tratar problemas de saúde, mas também para “prevenir” ou potencializar o crescimento de animais.

A realidade é preocupante porque esse uso indiscriminado tem favorecido a resistência antimicrobiana. E a principal consequência é a redução nos efeitos de medicamentos que deveriam ser utilizados no combate ao desenvolvimento de bactérias.

Tal resistência é um dos motivos pelo qual a Organização Mundial de Saúde (OMS) criou uma Semana Mundial de Conscientização Antimicrobiana – de 18 a 24 de novembro. Vale lembrar ainda que a entidade já alertou que no mundo a maior parte do consumo de antibióticos ocorre no contexto da pecuária.

O que podemos esperar para o futuro se o número de animais criados para consumo continuar crescendo? Afinal, as condições em que vivem, inclusive de superpopulação, potencializando diversos riscos, também estimulam o uso de antibióticos.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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