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Comerciais de carne são bons em vender as mentiras que desejamos

Comercial de presunto da Sadia e logo abaixo realidade da criação de suínos (que darão origem ao presunto depois de mortos) registrada pelo fotógrafo polonês Andrew Skowron

Todo comercial de carne com mascote e família é igual. Alegria, crianças sorrindo, abraços, confraternização, uma verdadeira lição de harmonia. Muito amor envolvido. Bandejas bonitas, rótulos bem elaborados, tudo para dissociar o que se come da realidade; e claro, um animal feliz divulgando a própria carne, como se estivesse se oferecendo para morrer.

Paradoxo da atmosfera “good vibes”

É paradoxal associar alimentos de origem animal com uma atmosfera “good vibes”, que inclui cumplicidade, respeito e companheirismo. Nos comerciais, há sempre pessoas felizes se alimentando de algo que não existiria sem privação, sofrimento e morte.

“Good vibes”? Talvez sob um preceito artificioso e jocoso de conveniência; e claro, mais casos de dissimulação estética e factual. Ou seja, a mensagem sobre os produtos é reforçada positivamente pelo seu caráter dissociativo e distorcido em relação à própria origem.

Nos comerciais da Sadia, Perdigão, Seara, etc., não há nada que associe alimentos baseados no abate de animais com qualquer emoção ou sentimento que possa dirimir ou desmotivar a predisposição do público em consumi-los; e isto porque explora-se a legitimação de uma idealização como um mecanismo reforçador.

Mais fantasia do que realidade

Sem dúvida, vende-se mais fantasia do que realidade. Claro, nem seria diferente, até porque é preciso fortalecer a propaganda de que “é como se a carne já surgisse como produto final”, como se não houvesse realidade precedente a ser considerada.

A antinômica artificialidade dos comerciais de alimentos de origem animal, com seus simulacros de belezas e prazeres da vida associados à banalização da violência contra outras espécies, é o que reforça um tipo capcioso de romantismo do consumo, fundamentado na negação da realidade.

Há uma prevalecente e contumaz rejeição àquilo que julgamos que não diz respeito a nós por uma questão de alheamento e indiferença envolvendo o impacto de nossos hábitos alimentares para outras criaturas sencientes.

Consumidores financiam esses comerciais 

Agimos como se não fôssemos responsáveis por nenhum tipo de violência e pagamos para que essas empresas perpetuem isso por meio de suas campanhas de publicidade, assim afagando nossas consciências.

Afinal, elas não fariam isso se não tivessem apoio dos consumidores, que são seus financiadores. Logo comerciais de carne são bons em vender as mentiras que desejamos.

Sugestões de leitura:

Por que o frango da Sadia te convida a comer animais?

Quantos animais mortos as pessoas armazenam no refrigerador?

 

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

Uma resposta

  1. Se “comerciais de carne são bons em vender as mentiras que desejamos”, hora da verdade, galera. Bora inundar onívoros com os documentários, as imagens, palestras e depoimentos sem maquilagem ou fantasia porque aqueles que não sabem, quando souberem, poderão mudar e ser um vegano de verdade. Bora mostrar pra eles o reality dos matadouros, das granjas agrícolas, da pecuária, estes infernos cotidianos e ininterruptos, o embarque de gado vivo, a vivissecção e toda a lista de ítens criada para desgraçar com os animais por conta da ambição financeira, da insensibilidade, da falta de amor e compaixão. Mentiras se desfazem com a verdade, quando se tem acesso a ela, sem papas na língua e sem dourar a pílula porque já chega de porcos fatiados no sanduíche ou de pedaços deles boiando na feijoada. É verdade ou não é?

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