Fornecedores de carne de cachorro podem pegar até cinco anos de cadeia na Indonésia

HSI: “São espancados, amarrados de cabeça para baixo e sangrados enquanto ainda estão conscientes” (Fotos: DMFI)

Na Indonésia, uma ação judicial inédita contra fornecedores e comerciantes de carne de cachorro pode resultar em até cinco anos de cadeia e multa equivalente a até R$ 1,4 milhão com base em uma lei relativa à saúde animal (Lei 18/2009) e outra sobre alimentação (Lei 18/2021). O processo é uma iniciativa do Ministério Público de Kulon Progo, em Yogyakarta.

“É a primeira ação judicial do tipo sob a lei de saúde animal. Ativistas esperam que seja um grande ponto de virada para colocar um fim a esse comércio brutal”, informa a organização Humane Society International (HSI).

A ação surgiu após a polícia do distrito de Kulon Progo interceptar em maio deste ano o transporte ilegal de 78 cães amarrados na carroceria de um caminhão. Eles seriam abatidos e destinados ao consumo humano na província de Java Central.

A interceptação motivou uma campanha nacional liderada pela Dog Meat Free Indonesia. A coalizão tem entre seus principais apoiadores o ator e comediante britânico Ricky Gervais. “Os cães, neste caso, foram todos roubados das ruas, onde animais de estimação circulam livremente. Muitos ainda estavam usando coleiras quando foram encontrados sofrendo em consequência de uma viagem exaustiva que durou mais de 10 horas”, relata a HSI.

Os responsáveis pela captura dos 78 cães cruzaram ilegalmente fronteiras provinciais para enviá-los para o abate. A expectativa é de que o caso seja um exemplo determinante para transformar a realidade dos cães e favorecer a proibição desse consumo. Somente em Suracarta estima-se que 13,7 mil cães são abatidos por mês em matadouros classificados pela DMFI como “imundos” e “improvisados”.

Segundo a HSI, não há garantia de que a carne de cachorro seja segura para consumo humano. “Todos os meses, dezenas de milhares desses cães são retirados das ruas e transportados ilegalmente por muitas partes da Indonésia. Muitos morrem durante essa jornada horrível de insolação, desidratação e ferimentos causados ​​durante a captura e transporte”, frisa.

“Os que sobrevivem são levados para matadouros onde são espancados, amarrados de cabeça para baixo e sangrados enquanto ainda estão conscientes. Outros são espancados até a morte em mercados públicos em algumas partes do país, à vista de outros cães aterrorizados que aguardam sua vez.”

De acordo com a diretora de campanhas contra o comércio de carne de cachorro da HSI, Lola Webber, é fácil ver como esse negócio não é apenas totalmente brutal, mas também pode desencadear um grave problema de saúde pública, considerando o crescente impacto das doenças zoonóticas.

“Novos patógenos podem atingir os humanos de várias maneiras – durante o abate, por meio de um consumidor local comendo carne de cachorro contaminada comprada em uma barraca próxima ou por meio de um turista respirando gotículas de sangue microscópicas enquanto visita um mercado”, diz.

“Portanto, em face de um risco tão óbvio para a saúde pública e o bem-estar animal, é bom ver o que esperamos ser a primeira de muitas interceptações e processos judiciais. Não podemos permitir que o comércio de carne de cachorro prospere em toda a Ásia se queremos proteger o público de futuras pandemias.”

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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