Como a romantização ajuda a perpetuar a exploração animal

Foto: Stefano Belacchi

Alguém pode dizer que há uma romantização em relação à reivindicação da não exploração de animais em nossas práticas de consumo – que animais existem para nos servir, que o sofrimento é menor do que dizem, que as capacidades não humanas são menores do que são; que eles não são dotados da perceptibilidade que quem os defende usa como referência de atribuição de consciência e capacidades análogas ou associativas envolvendo o reconhecimento de suas situações.

Outros podem dizer que tais animais são incapazes de situarem-se no tempo e articularem-se no espaço; e que não são aptos a fazerem escolhas que reafirmem uma oposição ao seu destino, como por exemplo, planejar a própria fuga; e que se ocorre, não é resultado de um desejo em evitar a morte, mas somente uma reação momentânea.

Como se tudo isso, independente do vazio ou não de sentido, pudesse ser justificativa para submetê-los, há também a alegação comum de que quem cria animais com finalidade de consumo não tem interesse em proporcionar-lhes mal, embora um mal seja indissociável dessa imposta subordinação. Analisando isso, posso dizer que a romantização está nesse discurso amparado na crença de que “um animal prescinde da vida para que nós a
transformemos”.

Essas considerações que dizem refutar a “romantização” da não exploração animal são, por paradoxo, “romantização”, já que subtrai e referencia o que é conveniente, sendo verdade ou não, para validar uma não atribuição de valor não econômico de grande anuência a partir da suavização da realidade ou construção de uma irrealidade.

Sobre isso, podemos sempre pensar também em dissimulações como “abate humanitário” e “protocolos de bem-estar animal”. Afinal, todo animal criado para consumo é um alvo de violência, já que sua morte, sendo fator de interesse primordial ou consequencial, depende da violação de seu corpo e da privação de sua vida.

Além disso, a ideia da “melhor vida” proporcionada a um animal criado para consumo nada tem a ver com o animal como sujeito, mas com o que dele pode ser subtraído. Logo a romantização é recurso imperativo porque serve à continuidade de uma confortável (ir)realidade.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Uma resposta

  1. O homem, por resolução unicamente sua, se colocou no “topo” da pirâmide e, assim, se acha no”direito” de usufruir, ao seu bel prazer,da vida e da morte dos animais que são na real, companheiros nossos de caminhada evolutiva!

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