O que pensar sobre bovinos mortos por eletrocussão?

Foto: PM-TO

Ontem (1), vários veículos de mídia publicaram que um cabo de alta tensão caiu em um curral no Tocantins e resultou na morte de 80 bovinos. As matérias destacam como problema “um prejuízo de R$ 200 mil”.

É mais um exemplo que serve para refletir sobre o estado de propriedade desses animais, e que se são pensados como mortos é porque são pensados dessa forma como um lucro que deixará de ser recebido.

Afinal, não haveria tal relação entre animal como propriedade e lucro se esse não fosse o lugar imposto a esses animais nas relações baseadas no que é exploração e morte.

Acredito que uma das considerações que mais ratifica o absurdo dessa realidade e que não tende a ser refletida dessa forma é que não importa se o animal será morto, mas onde o animal será morto.

Morrer nessa situação também pode levar ao lamento de pessoas que se alimentam de animais, porque elas podem achar triste o animal morrer assim.

Por outro lado, o tempo todo há animais recebendo dolorosos choques no momento de embarque para o matadouro e de desembarque, ou mesmo na etapa de separação nos currais.

Animais considerados “teimosos” são os que mais recebem choque elétrico como forma de “desestímulo à resistência”. Além disso, no Brasil, muitos animais criados para consumo, como frangos e porcos, são vítimas de “atordoamento” por descarga elétrica antes da degola. Para isso, preferem usar o termo eletronarcose, que soa menos desagradável.

Mas se o choque é visto como algo terrível, por que o choque institucionalizado não recebe tal reprovação se é um mal também indesejado pelos animais?

Observe a expressão de um animal após recebê-lo (com o intuito de causar danos cerebrais irreversíveis) e tenho certeza de que você não dirá que parece algo que alguém gostaria de experimentar.

Esse é um mal mais facilmente evitável, embora não se possa dizer que o primeiro, envolvendo o exemplo em Tocantins, também não seja, se também é consequência do lugar imposto ao animal.

Quero dizer, o animal não está lá, amontoado com outros, porque é uma propriedade comercializável em vida e na morte? E claro, desde que a morte não escape às determinações dos interesses de lucro e consumo.

Leia também “Animais não deveriam ser reduzidos a propriedades”“Dando choque em porcos no matadouro” e “É aceitável dar choque em um animal para que faça o que queremos?”

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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