Como a tecnologia em fermentação pode ajudar a reduzir a exploração animal

Startup Perfect Day, que produz alternativas aos convencionais laticínios, arrecadou o equivalente a R$ 1,6 bilhão em 2020 (Fotos: Perfect Day/Divulgação/Jo-Anne McArthur/We Animals)

Não é novidade que a tecnologia é uma grande aliada na criação de alternativas que ajudem a reduzir a exploração de animais com fins de consumo.

No entanto, hoje, já é reconhecível que algumas inovações têm atraído as maiores apostas, e entre estas estão aquelas que têm mais condições de aproximar o consumidor de uma experiência em que ele substitui um alimento de origem animal por um equivalente não animal, mas sem perceber a diferença.

Ou talvez a diferença seja tão pequena que não possa ser considerada significativa, já que o ponto mais importante é o apelo conquistado junto ao consumidor pela possibilidade de uma positiva percepção em relação ao custo-benefício.

Uma das tecnologias que mais tem se destacado nesse cenário, e por buscar reproduzir a mesma sensação de um alimento de origem animal, é a fermentação microbiológica com fins de produção de proteínas alternativas.

Terceiro pilar da indústria de proteínas alternativas

Nesse segmento, são desenvolvidos produtos voltados não para veganos que não gostam de análogos, mas consumidores de alimentos de origem animal ou que abdicaram desse consumo por razões éticas, mas buscam experiência semelhante em versões alternativas de carnes, leites, iogurtes, queijos, etc.

Considerada hoje um terceiro pilar da indústria de proteínas alternativas, a tecnologia em fermentação também tem sido bem vista pelo seu potencial em sustentabilidade e eficiência, e é isso que tem atraído inúmeros investidores.

Segundo um recente relatório do Good Food Institute (GFI), mesmo que 2020 tenha sido abalado pela pandemia de covid-19, o mercado global de produção de proteínas alternativas a partir de fermentação arrecadou o equivalente a R$ 2,37 bilhões até setembro deste ano, que é um valor 3,5 vezes maior que o das empresas de carne cultivada em laboratório.

Só a startup Perfect Day, dos EUA, que se dedica à produção de alimentos que reproduzem o mesmo sabor, textura e proteínas dos produtos lácteos, arrecadou o equivalente a R$ 1,6 bilhão para aperfeiçoar seus produtos e favorecer a oferta destes em grande escala.

Ressignificação da produção de proteínas 

O segmento global já conta com 45 empresas que buscam a ressignificação da produção de proteínas a partir da fermentação. Ou seja, sem explorar animais e ainda beneficiando o meio ambiente ao não promover desmatamento nem as alarmantes emissões de gases de efeito estufa liberados pela agropecuária, assim como sem contribuir com o desperdício de recursos naturais.

Além disso, conforme relatório do GFI, o mercado está passando por uma expansão surpreendente. Prova disso é que houve um aumento de 91% do surgimento de novas empresas especializadas em fermentação em 2019 em relação a 2018, com foco em alternativas aos produtos mais tradicionais de origem animal.

O que também reforça o potencial do segmento é que só nos primeiros sete meses de 2020 o mercado global de proteínas alternativas recebeu 80% mais investimentos do que em todo o ano de 2019.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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