Como o governo beneficiou a crescente matança de ovinos e caprinos no Brasil

Fotos: Aitor Garmendia/Tras Los Muros

Quando se fala em ovinos e caprinos no Brasil, a associação mais comum é com leite e lã. Poucos imaginam que esses animais sejam reduzidos a pedaços de carne. No entanto, esse é um destino cada vez mais comum no país, onde o mercado de carne de ovinos e caprinos não apenas vem crescendo, como isso tem ocorrido com apoio do governo federal.

Em julho, completa dois anos que o presidente Jair Bolsonaro sancionou a Lei nº 13.854/2019, que criou a Política Nacional de Incentivo à Ovinocaprinocultura. Isso significa destinação de subsídios especiais para o setor, visando a expansão desse mercado que reduz ainda mais esses animais a produtos e meios de geração de produtos.

Tudo começou a partir de uma iniciativa do deputado federal Afonso Hamm (PP-RS), que há alguns anos se comprometeu em levar mais recursos para o setor e ampliar a participação do Brasil não apenas no mercado de leite e lã, mas também de carne a partir de ovinos e caprinos – o que significa maior exploração econômica de cabras, ovelhas, carneiros e cordeiros. Vale lembrar que nos últimos dez anos, o cordeiro, antes abatido com cinco a seis meses, hoje já é morto com três meses.

Situação tende a piorar 

Hamm tem no Senado o apoio de Lasier Martins (Podemos-RS), com quem compartilha apoios e decisões em benefício do setor, o que além da instituição da Política Nacional de Incentivo à Ovinocaprinocultura, inclui também o PL 3780/2015, que cria o Dia Nacional da Ovinocultura, que de forma simbólica e propagandística visa enaltecer a criação de ovelhas e carneiros com fins de consumo, visando um fortalecimento efetivo e virtual do setor.

Como se o Brasil já não fosse um dos países que mais lucra com a matança de animais para consumo no mundo (só em 2020, matamos mais de seis bilhões de bois, frangos e porcos), estamos caminhando para um futuro em que esse cenário pode se agravar muito mais considerando a quantidade de leis e proposições legislativas que não apenas intensificam a exploração de animais já reduzidos a alimentos, mas também daqueles que ainda não foram explorados com essa finalidade.

Afinal, é exatamente por colocar os benefícios econômicos acima do valor da vida não humana que hoje há empresários e políticos que não veem problema no abate de animais normalmente utilizados como mão de obra e de espécies consideradas exóticas e/ou invasoras.

Saiba Mais

Caprinos são animais que podem viver por até 18 anos, mas na agropecuária são mortos com idade de quatro meses e peso vivo de 20 quilos. Já os ovinos, como os da raça dorper, que estão em expansão comercial no Brasil e são abatidos com cerca de 100 dias e 36 quilos, podem viver por pelo menos 12 anos.

Clique aqui para opinar sobre o projeto de lei que cria o Dia Nacional da Ovinocultura.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Uma resposta

  1. Inacreditável como tratam esse animais em objeto de consumo como se eles não tivessem sentimentos!!!!triste e revoltante demais!!!!

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