
Em frente aos expositores refrigerados, observou diversidade de laticínios – queijos, requeijões, manteigas, sobremesas, iogurtes e outras bebidas. “Quantas opções. Mas quem pensa em quem não tem opção?” Refletiu sobre a intimidade da vaca violada para fins econômicos.
“Gerar um filho, ser privada desse convívio, do exercício maternal. Produtos lácteos dependem da gestação de quem não escolheu parceiro, de quem foi invadida por mãos humanas. Dependem da lactação da vaca.”
Diante de seus olhos, produtos desapareciam das fileiras. “Mamíferos precisam nutrir suas proles em desenvolvimento. Mas em vez de amamentar bezerros, no caso das vacas, ‘amamentam’ humanos – de crianças a idosos.”
As ideias salteavam, iam e voltavam, enquanto seus olhos vagueavam entre queijos e iogurtes. “Sempre imagino alguém pendurado na teta de uma vaca quando consome algum produto lácteo…Por sua própria natureza, vacas jamais alimentariam humanos.”
Nascer, experimentar leite e morrer. Isso acontece o tempo todo no mundo dos bezerros. “O condicionamento, a conveniência e os confortos da industrialização que continuam ampliando a produtificação não humana tornaram essa estranha relação ainda mais digna de um imperativo de reprovação.”
E continuou: “Quem vê o sangue no fundo das bandejas, garrafas e potinhos? Há sangue sim, mas a percepção depende de um lampejo de consciência.” Tudo parecia tão esteticamente agradável nos expositores. Belas embalagens, destacando supostos benefícios de produtos à base de nutrientes para bebês não humanos.
“Nem bovinos mamam por toda a vida. Mas humanos mamam até morrer, porque consumir laticínio é mamar, sugar o máximo que pudermos de outra espécie. Moldamos e sugamos suas experiências, sugamos suas vidas, sugamos suas relações sociais e, não satisfeitos, sugamos até a carne de seus ossos quando deixam de ser produtivas.”
Sim, tem carne no leite e tem leite na carne. “Como posso dizer que estou diante de produtos gerados de forma pacífica? A beleza que existe aqui é a fealdade que ignoram fora daqui.”
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