Consumo de frango também financia desmatamento no Brasil

“Conseguimos rastrear a jornada do grão de soja de terras desmatadas até as fábricas de ração” (Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace)

Resultado de uma investigação do Greenpeace, Bureau of Investigative Journalism e ITV News revela que o impacto da pecuária no desmatamento brasileiro está muito além da formação de pastos e de áreas para produção de vegetais que servirão de ração para bovinos.

Neste mês de novembro, eles chamam a atenção para outra realidade – a produção de soja no Brasil para alimentar frangos que serão abatidos e consumidos na Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia e País de Gales).

“Conseguimos rastrear a jornada do grão de soja de terras desmatadas até as fábricas de ração, aviários e prateleiras dos principais supermercados e restaurantes de fast food na Grã-Bretanha”, informa a ITV.

A investigação aponta que a soja é levada de áreas desmatadas do Cerrado pela multinacional Cargill. A finalidade é alimentar os frangos que chegam aos consumidores por meio de supermercados como Tesco, Asda, Lidl e redes de fast food como McDonald’s e Nando’s.

Embora a atenção internacional sempre esteve mais voltada para a Amazônia, até pela sua exuberância, o Cerrado tem sofrido mais com o desmatamento do que a maior floresta tropical do mundo.

Trajeto da soja que deixa o Cerrado

“O Cerrado também é uma região crítica para enfrentar as mudanças climáticas, mas está cada vez mais sob a ameaça do impacto da produção industrial de alimentos”, destaca a ITV.

A estimativa é de que todos os anos mais de 100 mil toneladas de soja proveniente do Cerrado chegue ao Reino Unido por meio de um terminal em Liverpool, de onde serão enviadas para fábricas de ração para frangos da Cargill em Herefordshire e Oxfordshire.

A soja é combinada com outros grãos como trigo e então fornecidas a granjas que criam frangos para a Cargill, como é o caso das administradas pela empresa Avara em Herefordshire.

Depois esses frangos alimentados com a ração à base de soja produzida em áreas desmatadas do Cerrado são enviados para matadouros da Cargill. A investigação localizou um situado nos arredores da cidade de Hereford.

“O matadouro fornece frango a varejistas como Tesco, Lidl, Asda e para os restaurantes de fast food Nando’s e McDonald’s. Por meio desse sistema de abastecimento global, existe uma ligação indiscutível entre as queimadas de florestas no Brasil e o frango que compramos na Grã-Bretanha”, destaca a ITV.

Cerrado perde uma São Paulo a cada 90 dias

O Cerrado perde uma área equivalente a uma cidade de São Paulo a cada 90 dias, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Além disso, metade da área original do bioma passou a ser ocupada pela agropecuária, conforme levantamento também reforçado pelo WWF-Brasil.

Em janeiro, o Greenpeace divulgou um relatório intitulado “Winging it: How the UK’s Chicken Habit is Fuelling the Climate and Nature Emergency”, enfatizando que atender a demanda anual da Grã-Bretanha por soja com o objetivo de alimentar animais requer 1,4 milhão de hectares – uma área maior que a Irlanda do Norte.

Segundo o Greenpeace, há empresas internacionais que não se preocupam em saber se a soja adquirida é proveniente de áreas onde o desmatamento é ilegal. Sendo assim, os consumidores que trocam a carne vermelha por carne de frango ou de outras aves por acreditarem que não estão contribuindo com esse sistema estão equivocados.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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