Cordeirinho de Natal

Alguém lembra do tapete da sala – “é parecido”. Outro de um casaco. Continua quieto, presente e alheio (Foto: Mindy Wildgrube)

Cordeirinho continua amarrado à jabuticabeira. Seus olhos vão onde seus passos não chegam. Crianças chegam e tem carinho no pelo – como travesseiro. Um de cada vez ou todos juntos vêm e vão. Sorrisos e risadinhas. É fofinho, abaixa a cabeça, é o afago que chega. Quase fecha os olhos.

Já miudinhos na confiança, pra frente e pra trás. Igual ontem, serenando na brisa ou sentindo o sol que atravessa a copa. Não muda, ainda não. Uma porção de comida e uma de água. Silencioso, sim, muito. Manso que nem manso. Recebe outra porção de mãos pelo corpo.

Alguém lembra do tapete da sala – “é parecido”. Outro de um casaco. Continua quieto, presente e alheio. Mais crianças chegam – um cercado de mãos trançadas. Fica agitado, se acalma e cochila sobre as patas. Vão embora. Acorda por instante com cheiro de sangue e metal – é Natal.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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