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Uma crueldade não é crueldade por não ser vista como crueldade?

Essa é uma das questões contraditórias mais subjetivadas e relativizadas sobre a realidade da exploração animal

Foto: We Animals

Uma crueldade não é crueldade por não ser vista como crueldade? Essa é uma das questões contraditórias mais subjetivadas e relativizadas sobre a realidade da exploração animal.

A maioria das pessoas nas sociedades que naturalizam o consumo e a mercadorização de animais vive sob um sistema de crenças em que o que é crueldade é somente o que foge à “normalidade”, ignorando que a normalidade pode ser evidência da crueldade.

Alguém dirá que não posso dizer que há crueldade no que muitos não veem como crueldade, mas se esses muitos se beneficiam, ou julgam se beneficiar com a crueldade, não são eles omissos à crueldade, indiferentes à crueldade ou negacionistas da crueldade porque reconhecer a crueldade seria reconhecer que apoia a crueldade?

Quantas pessoas olhariam para o próprio consumo e admitiriam que, quando envolve animais não humanos, é inegável que há crueldade? Ou diriam apenas que não há crueldade inerente porque podemos ser justos e bondosos em explorar e tirar a vida de animais?

Para quem vê a crueldade como o inaceitável excludente que não transforma seus hábitos, a crueldade não é o que é inerente, mas o que é diferente. Somente reconhecem crueldade naquilo que não admitem em relação ao seu consumo – logo a crueldade recebe status seletivo, para manter-se no lugar de imobilidade.

É o caso de quem acredita na crueldade como exceção, que não considera que se fosse um animal não humano por quem tem estima ou por quem não tenha, mas sobre quem não aceitaria esse tipo de imposição, jamais defenderia tal posição.

Quem diz que não vê problema em apoiar e financiar crueldade? Descornar, descartar, marcar, mutilar, debicar, descaudar, engaiolar ou “apenas” degolar. Realmente é acreditável que é incompatibilizar associar esses exemplos e outros com crueldade?

Ser cruel é normalizado porque tanto o costume quanto a lei favorecem essa consideração que permite constante relativização. Afinal, se não é possível livrar os animais dessa realidade é porque a crueldade é norma aceitável. Por outro lado, não dependemos da lei para refletir sobre o impacto da manutenção de nossos hábitos para os outros. Basta pensar no outro.

Leia também “Pode haver beleza na crueldade animal?“, “Consumir animais não permite a crueldade?” e “Até quando a crueldade animal será normalizada?

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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