‘Pig’: Conto macabro de Roald Dahl favorece crítica ao consumo de carne

“Pig” também surpreende por ser um trabalho completamente diferente das obras mais conhecidas de Dahl (Imagens: Penguin Classics/Reprodução)

Em 1960, o escritor britânico Roald Dahl publicou um conto macabro intitulado ‘Pig’, em que evidencia como a violência contra os animais é legitimada, aceita como parte de um “processo natural”, a partir de nossos hábitos de consumo.

No Brasil, Dahl é mais conhecido pelos livros infantis ‘A Fantástica Fábrica de Chocolate’ e ‘Matilda’. As duas obras foram adaptadas para o cinema. A primeira ganhou versões com Gene Wilder e Johnny Depp e a segunda com Danny DeVito e Mara Wilson.

No entanto, ‘Pig’ é completamente diverso dessas obras e choca ao mesmo tempo em que estimula o leitor a refletir sobre uma realidade que parece absurda, mas que condiz com a não ficção, com o nosso cotidiano.

Na história, Lexington, um jovem criado como vegetariano vai a um restaurante e experimenta um prato à base de repolho e carne de porco. Ele nunca tinha comido aquilo e fica maravilhado com a experiência, tanto que decide descobrir a origem da carne. Então viaja até um matadouro e testemunha o sofrimento dos porcos submetidos ao processo de abate.

O primeiro porco é mantido imóvel por meio de uma corrente que envolve seus pés – presa a um cabo que se move para cima e para baixo. Logo o animal é arrastado enquanto dá grunhidos desesperados na linha de abate. Apesar da crueldade, Lexington acha o processo fascinante enquanto os funcionários da linha de produção mostram-se entediados.

No lugar do porco 

De repente, por um descuido, uma das pernas do rapaz fica presa a uma corrente e ele é arrastado por um cabo. Os funcionários não se importam, indiferentes ao processo que se repete diariamente.

A descrição do que acontece com Lexington contempla todo o processo de abate. A única diferença é que há um humano no lugar de um porco.

O maior apelo da história subsiste na associação que o escritor Roald Dahl faz entre suínos e humanos. Sua abordagem vai ao encontro do que deveria ser óbvio a nós, assim como da ciência, que qualifica os porcos como animais sencientes e inteligentes.

Porém a diferença mais significativa está na incapacidade de terem pensamentos abstratos, serem esperançosos ou recorrerem a Deus. Por isso, sua dor é mais avassaladora do que a humana, segundo ‘Pig’.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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