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Data lembra como importância dos oceanos é subestimada

Ao impactarmos no cenário natural marinho, comprometemos suas formas de vida (Foto: iStock)

Hoje (8) é o Dia Mundial dos Oceanos, e a data lembra como sua importância ainda é subestimada. Ainda que os oceanos tenham condições de absorver até 93% do gás carbônico do planeta, tal capacidade é comprometida por inúmeras atividades humanas – como a pesca comercial que culmina por ano em captura e abate de 790 bilhões a 2,3 trilhões de peixes, conforme levantamento do site britânico Fish Count.

Impacto da pesca comercial

Pesquisadores como Villy Christensen e D. Pauly, da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá, apontaram há décadas que a pesca excessiva pode transformar um ecossistema estável em um ecossistema bastante ineficaz.

Isto porque ao interferir na abundância de espécies e na predação natural, a pesca modifica profundamente a cadeia trófica e os fluxos de biomassa e energia do ecossistema; e pode ainda modificar e destruir a topografia dos habitats.

Ao alterar esse cenário, há também o comprometimento das florestas marinhas, que são responsáveis pela absorção de grandes quantidades de carbono, contribuindo no combate às mudanças climáticas.

Impacto de dejetos químicos 

Para piorar, cerca de 400 milhões de toneladas de metais pesados, solventes, lama tóxica e outros dejetos de estabelecimentos industriais são despejados anualmente nas águas do mundo, segundo a ONU.

Além disso, fertilizantes nos ecossistemas costais já deixaram mais de 400 zonas oceânicas mortas, totalizando mais de 245 mil quilômetros quadrados – uma área maior que o Reino Unido.

Impacto do plástico

Em uma de suas campanhas mais recentes, a organização de conservação da vida marinha Sea Shepherd mostrou que uma simples sacola plástica, que parece inofensiva aos nossos olhos, pode representar o sofrimento extremo e até a morte por asfixia de milhares de animais que habitam os oceanos.

Mas a crítica não se limita às “sacolinhas”, mas a todo plástico que vai parar no oceano, incluindo o microplástico utilizado como ingrediente em muitos produtos e que pode ser invisível a olho nu.

Recentemente, ganhamos um novo problema, que é o descarte inadequado de máscaras e luvas utilizadas como medida protetiva durante a pandemia do novo coronavírus, que também estão chegando aos oceanos.

Impacto do cigarro

Outro problema são as bitucas de cigarro. De acordo com a ONG Ocean Conservancy, são grandes fontes de lixo dos oceanos. De 1980 pra cá, já foram coletados 60 milhões de filtros de cigarro, o que segundo a organização, excede o número de sacolas plásticas, embalagens de alimentos, garrafas e canudos retirados dos oceanos. O fato de haver fumantes que tratam o meio ambiente como um cinzeiro tem sido prejudicial aos ecossistemas.

Embora os filtros de cigarro sejam feitos de acetato de celulose, o que leva à crença de que eles são biodegradáveis, a verdade é que um tipo de microplástico que não é biodegradável se forma quando o acetato de celulose é processado, o que favorece a poluição oceânica quando as bitucas são descartadas, segundo a Ocean Conservancy.

Impacto da pesca fantasma

Outro problema é a a pesca fantasma, que só no Brasil atinge 70% dos mares, conforme estimativa da organização World Animal Protection (WAP). O termo diz respeito aos equipamentos descartados ou perdidos nos mares, que somam pelo menos meia tonelada por dia, afetando 69 mil animais marinhos – que podem se ferir e morrer. Por ano, o resultado é ainda mais preocupante porque representa o declínio populacional de 5% a 30% de algumas espécies marinhas.

Elevação do nível dos oceanos

De acordo com informações da Agência Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a elevação do nível dos oceanos pode ultrapassar 1,6 metro até o fim do século, com consequências desastrosas principalmente para as populações costeiras.

Além de medidas para a redução das emissões de gases do efeito estufa a serem adotadas pelos países, os cidadãos precisam mudar hábitos e pressionar os tomadores de decisão para evitar um cenário catastrófico.

“São necessárias políticas de Estado, o que não quer dizer políticas de governo. É preciso que seja algo perene, ao longo de décadas”, disse Michel Michaelovitch de Mahiques, professor no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP).

Espécies prejudicadas

Vale lembrar que não é de hoje que biólogos marinhos estão denunciando que espécies de peixes como o atum e o peixe-espada, conhecidos como mergulhadores de águas profundas, por caçarem a 200 metros abaixo de profundidade, estão cada vez mais sendo vistos na superfície.

Conforme informações da ONU Meio Ambiente, a razão para essa guinada de comportamento é que as temperaturas mais quentes dos mares estão acabando com o oxigênio da água, o que torna respirar — o que dirá, caçar — em águas profundas uma tarefa difícil para esses predadores. Quanto mais calor a atmosfera do planeta armazena, mais quente os oceanos ficam.

“Se você pensa no aquecimento dos oceanos, pense [também] na elevação do nível do mar, nas mortes de recifes de corais e na acidificação dos oceanos. Isso [tudo] fará com que seja mais difícil para as formas de vida existentes no oceano sobreviverem”, lembrou o enviado especial das Nações Unidas para o Oceano, Peter Thomson, em entrevista à ONU Meio Ambiente.

Clique aqui para saber mais sobre o impacto da pesca comercial no meio ambiente.

Jornalista (MTB: 10612/PR) e mestre em Estudos Culturais (UFMS).

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