De carroças para hamburguerias, uma reflexão sobre a exploração e abate de cavalos

Fotos: Antônio Valiente/Agência RBS

Nesta quinta-feira (18), a GaúchaZH publicou uma reportagem denunciando um esquema ilegal de comércio de carne de cavalo misturada com carne bovina para hamburguerias da Serra Gaúcha, visando barateamento de custo e maior lucro.

O resultado de dois meses de investigação realizada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) foram seis mandados de prisão e 15 de busca e apreensão em Caxias do Sul.

Há alguns pontos que chamam bastante atenção nesta história. Os animais abatidos em uma chácara eram principalmente cavalos debilitados e doentes, que já foram utilizados como tração animal e que eram vendidos após anos de exploração.

Ou seja, cavalos que já não tendo forças para puxar carroça, transportar cargas, e passando a ser considerados “inúteis”, são vendidos para que sejam mortos e reduzidos a pedaços de carne.

Mesmo com esse desrespeito e crueldade contra a dignidade não humana, é comum haver pessoas que preocupam-se apenas com o risco dessa carne para a saúde humana, já que é considerada imprópria para consumo, avaliando as “condições de clandestinidade”, e pouco se importando com um outro problema, que é o que principia essa realidade.

Até onde a exploração animal nos leva

Afinal, não se trata de criação de cavalos para consumo. Até porque não é algo inerente aos hábitos de consumo dos brasileiros. O abate de equinos ocorre, de maneira ilegal ou não no Brasil, a partir da matança de animais que já não são considerados úteis para outras atividades.

O quanto é generoso aquele que submete um animal à carroça ou qualquer outra prática até o esgotar de suas forças e depois o vende para ser consumido como bife ou hambúrguer? Ainda que esta história não fosse sobre abate ilegal, isso tornaria o destino desses animais menos cruel? Se fossem abatidos em matadouros regulamentados, estaria tudo bem? Vale lembrar que o Brasil não tem lei federal que proíbe abate de cavalos.

Não há como ignorar que quando se trata de animais não humanos, viver ou morrer depende do tipo de lucro que um animal pode gerar. Se vale mais vivo, continuará vivo; se vale mais morto, será morto – o que é uma consequência da coisificação e produtificação de vidas.

Afinal, quando vemos animais não humanos como criaturas que devem nos beneficiar – pelo bolso ou paladar – não ponderamos sobre o que isso realmente significa para as vítimas, e rejeitamos seus interesses ao nos aproveitarmos de suas diferenças e vulnerabilidades.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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