Demanda por carne e leite exige mais de 80% das terras agrícolas do mundo

Demanda por carnes e laticínios impulsiona desmatamento em novas áreas (Foto: Andre Zumak/IHP)

De acordo com um estudo publicado em setembro no periódico científico Nature Sustainability por pesquisadores da Universidade do Estado do Oregon em parceria com a Universidade de Nova York, Universidade do Estado do Colorado e Universidade Harvard, a demanda global por carnes e leite já exige mais de 80% das terras agrícolas do mundo, o que não ajuda muito quando pensamos no impacto da agropecuária para o planeta.

Segundo o estudo, priorizar o consumo de proteínas de origem vegetal, como as encontradas em leguminosas, pode fazer uma grande diferença na quantidade de dióxido de carbono que chega à atmosfera.

Além disso, nesse ritmo, a produção de carnes e laticínios tende a demandar cada vez mais áreas, incorrendo em mais desmatamento e grande perda de vegetação nativa, o que, entre outras consequências, prejudica a absorção de CO2.

Segundo o professor de ecologia da Universidade do Estado do Oregon, William Ripple, alimentos de origem vegetal fornecem nutrientes importantes enquanto exigem uma pequena porcentagem de terra em comparação à produção de carne e leite.

Outros impactos considerados

O estudo avalia que se a produção atual de alimentos de origem animal passar por uma transição em que há priorização de alimentos mais benéficos para o planeta, como é o caso das proteínas não animais, seremos capazes de alcançar uma redução que equivaleria a anos de emissões de gases do efeito estufa.

Outro apontamento feito pelo estudo é de que hoje há uma área de mais de sete milhões de quilômetros quadrados (equivalente ao tamanho da Rússia, que é o maior país do mundo) sendo prejudicada pela produção extensiva de alimentos de origem animal. Sem essa pressão agrícola, a conclusão é de que as florestas cresceriam e prosperariam.

De acordo com Ripple, a redução na produção de carne também teria como consequência uma grande redução no uso de água e de impacto nos habitats da vida silvestre e na biodiversidade. Além disso, seria uma mudança positiva no combate às pandemias originadas a partir de doenças zoonóticas (de animais para humanos) como é o caso da covid-19.

Importância de preservar os ecossistemas e a vida silvestre

“Ecossistemas intactos e funcionais e habitats de vida silvestre preservados ajudam a diminuir o risco de pandemias. Nossa pesquisa mostra que, com a mudança na dieta, temos a oportunidade de devolver grandes áreas à natureza e à vida silvestre, com impactos relativamente mínimos na segurança alimentar. A restauração do ecossistema e a redução das populações de gado podem reduzir a transmissão de doenças zoonóticas”, avalia o pesquisador da Universidade do Estado do Oregon.

O estudo “The carbon opportunity cost of animal-sourced food production on land” defende que cortes na produção de carnes e laticínios poderiam trazer um impacto positivo podem ajudar de forma substancial a limitar o aquecimento global em 1,5 graus Celsius acima dos níveis do período pré-industrial, conforme defendido pelo Acordo de Paris.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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