Demanda por couro no Brasil apoia matança de milhões de animais

Consumir couro também significa apoiar o processo de abate. Afinal, não há couro sem morte (Fotos: Acervo PETA/AE)

No Brasil e em qualquer outra parte do mundo, quem compra um produto à base de couro normalmente não reflete sobre a dimensão da cadeia de violência que existe por trás dessa aquisição.

Embora o couro seja um subproduto da indústria da carne, chama atenção o fato de que só no Brasil a matança de animais em resposta à demanda gera mais de 2,35 milhões de peças de couro cru por mês.

Chegamos a esse número com base em dados trimestrais da pecuária do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que revela também no último levantamento que foram mortos no Brasil 6,54 milhões de bovinos em um período de 90 dias.

Mas pensando agora somente em couro, imagine até onde chegaríamos se estendêssemos em fileira única 2,35 milhões de peças de couro cru resultante do abate mensal de animais e logo após a extração. E se os consumidores tivessem a oportunidade de ver o estado desses corpos não humanos já sem a própria pele?

Será que todos se sentiriam confortáveis em continuar financiando essa indústria? Ver um ser senciente sem pele, mesmo que já sem vida, nunca é agradável e também porque não deixa de ser um tipo de violação.

O couro, que passa por processo físico-químico que favorece a despersonalização e desconexão por meio do curtimento e da industrialização, nunca deixa de ser o que é, ou seja, um tecido que existiu para envolver e proteger o corpo de um animal, assim como nossa própria pele nos protege.

Consumir couro também significa apoiar o tradicional processo de abate. Afinal, não há couro sem morte, e com essa também chamada “agregação de valor” infelizmente é algo vantajoso para quem cria animais com finalidade exploratória/econômica.

Mesmo quem não consome carne

Então mesmo quem não consome carne, mas não vê problema em utilizar artigos de couro, financia o envio do gado para um processo que inclui banho de aspersão – que garante a chamada “esfola higiênica” – secagem de pele e  “atordoamento” ou “insensibilização”, que consiste em deixar o animal inconsciente inutilizando seu cérebro por meio do uso de pistola ou marreta pneumática.

Na sequência, o animal é pendurado e degolado, e todo o processo deve ser feito de forma a não comprometer a “boa preservação” do couro. Na degola, que pode ser precedida de vômitos, um boi chega a perder até 20 litros de sangue e a morte ocorre por falta de oxigenação no cérebro. A “produtificação” dessas vidas é seguida por esfola, remoção do couro e cabeça, evisceração e refrigeração.

Não há como ignorar que não existe couro animal sem violência. Afinal, sem essas etapas no matadouro, o couro não chegaria aos calçados, roupas, bolsas, móveis e outros tantos acessórios que as pessoas adquirem sem considerar a cadeia produtiva, e sem ponderar sobre o impacto ambiental dessa produção.

Afinal, além das consequências ambientais que também estão associadas à produção de carne para consumo, outro problema é o uso de substâncias químicas na industrialização do couro que agridem o meio ambiente a partir do descarte de resíduos. Ademais, efluentes tóxicos de cromo, ácidos e alvejantes, por exemplo, podem causar doenças crônicas e até câncer.

Em um mundo onde é possível abrir mão do uso de couro animal, não há motivo para hesitarmos, ainda mais com um número crescente de alternativas ao alcance dos consumidores.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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