Reduzir desperdício de alimentos também pode contribuir no combate às mudanças climáticas

No Brasil, 26 milhões de toneladas de alimentos vão para o lixo anualmente (Foto: Acervo/FAO)

A perda e o desperdício de alimentos geram de 8% a 10% de todas as emissões de gases de efeito estufa produzidos por seres humanos, de acordo com novo relatório sobre mudanças climáticas, o primeiro a destacar a relação estreita entre esse fenômeno e os fracassos do sistema alimentar. O tema esteve em discussão até ontem (23) na Semana do Clima da América Latina e Caribe, realizada em Salvador (BA).

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) diz que tem advertido há anos sobre a magnitude deste problema: quase um terço de todos os alimentos que produzimos — 1,3 bilhão de toneladas por ano — é perdido ou desperdiçado.

Se compararmos as emissões de gases de efeito estufa associadas à perda e ao desperdício de alimentos com a emissão dos países, elas representariam o terceiro maior emissor global, depois de China e Estados Unidos — aponta o relatório.

Além disso, 38% dos recursos energéticos consumidos pelo sistema alimentar global são utilizados para produzir alimentos perdidos ou desperdiçados. Isso se dá não apenas por ineficiências e limitações nos sistemas de produção e fornecimento de alimentos, mas também durante o consumo.

A prevenção da perda de alimentos pode contribuir para reduzir as emissões do setor agrícola, diminuindo a pressão sobre os recursos naturais e evitando a necessidade de converter terras e expandir a fronteira agrícola.

Atualmente, quase 30% das terras agrícolas do mundo são usadas para produzir alimentos que nunca serão consumidos, representando uma área semelhante à área total do continente antártico.

Esta é uma dinâmica completamente insustentável que deve ser alterada o mais rápido possível. O Chile tem sido um dos países a reagir a isso. Desde 2017, o governo chileno implementou um Plano de Ação e um Programa Nacional de Consumo e Produção Sustentável, com prioridade para o sistema alimentar e a redução de perdas e desperdícios na cadeia de valor, incluindo o consumo no nível doméstico.

O governo chileno lidera a iniciativa que reúne vários atores que trabalham em três áreas: regulamentação e leis; pesquisa, tecnologia e produção de conhecimento; e comunicação e conscientização para compartilhar as ações que resolvem o problema.

Esta experiência foi apresentada no evento paralelo “Revertendo a mudança climática cuidando dos alimentos”, que a FAO realizou nesta edição de 2019 da Semana do Clima da América Latina e Caribe.

A chave é reformar o sistema alimentar para produzir alimentos saudáveis ​​de forma mais eficiente, investindo na incorporação de inovação tecnológica, segundo a FAO. Juntamente com soluções técnicas, é possível promover mudanças nos padrões de consumo para reduzir o desperdício.

 

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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