Dia Nacional da Ovinocultura é incentivo ao abate de ovelhas

PL cobra do governo promoção de campanhas que estimulem a criação desses animais e o consumo de produtos como carne de carneiro e ovelha (Fotos: Aitor Garmendia/Tras Los Muros)

Um projeto de lei de autoria do deputado Afonso Hamm (PP-RS) defende a criação do Dia Nacional da Ovinocultura. Ou seja, da criação de carneiros e ovelhas com fins de consumo. O PL 3527/2019 prevê que o dia 19 de janeiro seja voltado à celebração que reforça a objetificação desses animais.

Um dos maiores defensores do PL, o senador Lasier Martins (Podemos-RS) recentemente deu parecer favorável ao projeto na Comissão de Educação (CE), argumentando que a data deve estimular o consumo de produtos oriundos da ovinocultura, assim como “fomentar a economia e contribuir com a inclusão social”.

O PL cobra do governo promoção de campanhas que estimulem a criação desses animais e o consumo de produtos como carne de carneiro e ovelha, além do leite, couro e lã. O projeto agora deve ser analisado no plenário do Senado.

Vale lembrar que em 2019 o presidente Jair Bolsonaro sancionou o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 107/2018, também de autoria de Afonso Hamm e endossado por Lasier Martins, que prevê apoio para ampliação do abate de ovinos e caprinos no Brasil.

Os caprinos são animais que podem viver por até 18 anos, mas na agropecuária são mortos com idade de quatro meses e peso vivo de 20 quilos. Já os ovinos, principalmente da raça dorper, que estão em expansão no Brasil e são abatidos com cerca de 100 dias e 36 quilos, podem viver por pelo menos 12 anos.

Além disso, o consumo de produtos provenientes da ovinocultura e caprinocultura no Brasil é considerado baixo, o que já seria suficiente para reforçar qualquer desestimulo à atividade. Afinal, o que deve prevalecer é o interesse da maioria, e esse consumo não faz parte dos hábitos da maioria dos brasileiros.

Mesmo com o baixo consumo, a expectativa de vida dos cordeiros caiu ainda mais nos últimos dez anos no Brasil. O animal que já era abatido de forma precoce com idade de cinco a seis meses, atualmente é morto com três meses.

O que mudou é que hoje o padrão é criá-lo regime mais intensivo, o que significa mais privação e mais condicionamento nutricional visando ampliação de peso em menor período de tempo.

“Os carneiros bebem moderadamente, depois começam a pastar tranquilamente, parecidos um com o outro no tamanho, nas cores, até nos movimentos. Gêmeos, com toda certeza, destinados desde o nascimento à faca do açougueiro. Bom, nada de mais nisso. Há quanto tempo os carneiros não morrem de velhice?”, escreveu o escritor sul-africano J.M. Coetzee, Prêmio Nobel de Literatura em 2003, no livro “Desonra”, de 1999.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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