Tem dinheiro para comprar carne e leite? Então seja vegano!

Não faz muito tempo que a Consumers International publicou uma pesquisa informando que 80% da população brasileira ignora o impacto da alimentação em suas vidas. Ou seja, isso significa que temos 80% de uma população que não se preocupa, ou não tem condições de se preocupar, em se alimentar errado, caso esses dados sejam realmente precisos.

E para além disso, segundo a CI, apenas 12% da população brasileira acredita que a má alimentação é responsável por mais mortes humanas do que guerras, álcool, tabagismo e doenças como Aids e malária – o que, independente de percentual, é um fato, já que vivemos em um mundo em que lidamos copiosamente com dois tipos de morte frequente – pessoas que têm condições se alimentando mal o tempo todo (por opção) – logo contraindo graves doenças em decorrência desses maus hábitos; e vulneráveis ou desvalidos que não têm condições morrendo por não ter o que comer. Preocupante, não?

Impraticável ser vegano?

Nesse contexto absurdo, de um mundo rico e ao mesmo tempo miserável com população mundial de 7,7 bilhões e que movimenta mais de 80 trilhões de dólares em Produto Mundial Bruto (PMB), temos também uma massa de pessoas com acesso à informação e condições de fazer alguma diferença no mundo que não entendem ou preferem não entender que o seu organismo funciona como uma máquina.

Logo se você negligenciar as necessidades dessa máquina, você vai comprometê-la mais cedo ou mais tarde. Muitas dessas pessoas, que por improvidência levam um estilo de vida censurável do ponto de vista nutricional, julgam como sendo impraticável ser vegano.

Ou seja, não tenho condições de ser vegano, de consumir alimentos menos industrializados ou mais baratos do que alimentos de origem animal, mas tenho condições de consumir carnes, laticínios e alimentos baseados em calorias vazias. Afinal, tudo isso custa barato e calorias vazias são essenciais à nossa vida, não?

Imagine se os maus alimentos que consumimos no cotidiano fossem substituídos por uma alimentação mais simples e mais ética para nós e para os animais não humanos. Ou seja, que não custasse privação, sofrimento e morte de criaturas sencientes. Todos sairiam ganhando. Não digo que salvaríamos o mundo, mas já reduziríamos de forma significativa o nosso impacto.

Rejeição ao veganismo e primazia da conveniência

Então sou da opinião de que a rejeição ao veganismo por parte de quem tem acesso à informação parte da mesma premissa de sempre – o paladar e a primazia da conveniência. Pessoas morrem todos os dias em decorrência da fome ou dos excessos da má alimentação, mas ser vegano, se recusar a contribuir com a exploração animal, continua sendo considerado impraticável por tanta gente que se recusa a ver que seus hábitos nunca foram seus, mas apenas resultado de um condicionamento industrioso e deletério que ultrapassa gerações.

Muitas pessoas que fazem a transição para o veganismo descobrem que a informação é uma aliada e que é possível gastar menos do que se gastava antes. Não apenas em relação à alimentação, mas a inúmeros produtos considerados básicos que as pessoas geralmente compram e consomem. Até porque um produto vegano pode demandar menos ingredientes para ser produzido.

Sendo assim, basta querer mudar e entender que, em um contexto mundial, nossos hábitos onívoros podem significar a morte de até 70 bilhões de animais terrestres e até 2,3 trilhões de peixes por ano. Isso não deveria exortar alguma reflexão? Para além da primacial questão ética, é importante ponderar também que pessoas não adoecem ou morrem por não se alimentarem de animais, mas sim por negligenciarem suas necessidades nutricionais. Afinal, se isso não fosse verdade, não teríamos pessoas se recusando a se alimentar de animais desde os tempos da Grécia Antiga, e até antes.