Do que é feita a compaixão pelos animais?

Foto: Aitor Garmendia

Discursos sobre a compaixão são usados há muito tempo com a intenção de demover pessoas do interesse em tomar parte em algo prejudicial aos animais, como submetê-los e consumi-los.

As associações com a compaixão são bastante diversas e marcadas por pessoalidades. Há manifestações que a qualificam como “uma nobre capacidade”, “uma expressão de um bem que nos habita”, “uma reação a um pesar que não se pode ignorar” e “uma preocupação com a dor de alguém” – e que seja o suficiente para querermos evitá-la ou suprimi-la.

A compaixão pode ter um significado maior para alguns e menor para outros, porque seu impacto não depende somente do que é, mas como a representação do “é” desenvolve-se dentro de nós e quais conexões são feitas a partir de outras experiências, percepções e sensibilidades.

Mas a compaixão, mesmo reconhecida como benevolência, pode ter um estranho efeito de piedade, que surge como efeito de um olhar em que esse sentimento em relação ao outro pode existir porque o olhamos como um “inferior”, e que depende da bondade de alguém “superior” para não ser vitimado.

E se esse sentimento desperta um enaltecimento de nós mesmos, e explicitamo-nos como salvadores por livrarmos um animal de um mal, a compaixão serve mais a esse animal ou a nós?

Schopenhauer compartilha uma visão romântica sobre a compaixão aos animais quando a associa às virtudes da justiça e da gentileza. Não menosprezo sua concepção, em que vejo razão, mas reconheço nela uma incompletude, porque a compaixão pode ser evocada a partir da atribuição de consideração baseada no caráter da diferença.

Em relação aos animais, tento resistir às estereotipias que possam ser associadas com inferioridades, porque essas construções surgem das comparações que partem de nós para os outros, identificando-nos como exemplos e referências, o que não deixa de ser um olhar homocêntrico.

Acredito que quando vemo-nos como uma espécie de “guardiões dos animais inferiores” podemos reproduzir ideias de que estamos defendendo criaturas em que reconhecemos suas vulnerabilidades como inferioridades, não especificidades.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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