E se conhecêssemos a história dos animais que comemos?

Foto: Selene Magnolia

Uma pessoa pode olhar para um animal e não vê-lo como alimento, o que também é comum; e quando o compra no açougue não lembra do animal que já viu e que tem partes dispostas naquele espaço de comercialização.

Esse é o processo mais comum de desconexão, e porque as pessoas não são educadas para tal conexão. Mas reconheço também que nem todas que fazem a conexão mudarão. Porém, não é relevante que elas saibam, conheçam e reflitam sobre a origem do que consomem desde cedo?

Afinal, qual era a “vida” daquele animal que está no prato? Como foi o processo que permitiu que o leite ou queijo ou qualquer derivado estivesse disponível no mercado? E a vida da poedeira, como é ou foi? Em tempos de crescente atenção ao chamado consumo consciente, isso deveria ser premente, uma exposição tão básica quanto imprescindível – e que precisa ser explicitada longe dos romantismos capciosos típicos da produção de proteína animal.

É importante que uma pessoa, ao se deparar com um animal, seja um frango, um porco ou um novilho, saiba que aquele animal é como aqueles que são consumidos, não idênticos, porque animais como sujeitos têm suas particularidades, mas também têm sua criação serializada e terminam (considero mais correto dizer que são terminados, porque é ação impositiva) no mesmo lugar.

Embora animais tenham vida, apenas em uma literalidade objetiva, é perceptível semelhanças na maneira como são tratados em comparação com produtos em série em uma linha de produção.

Afinal, não há atribuição de importância às especificidades, a não ser quando são barreiras à geração de lucro ou característica ou consequência indesejada que demanda atenção especial, que também é atenção dada a alguém que é manipulado como produto, e tal cuidado visará, em primeiro lugar, retorno monetário.

Muitas pessoas podem dizer que sabem o que acontece com os animais usados no sistema alimentar, e que não há problema; porém, se tal conhecimento tem um efeito trivializado, talvez aperfeiçoá-lo possa ter um efeito diferenciado. Ainda que possa não ter, em um hipotético cenário de ineficácia, melhor é sabê-lo do que não sabê-lo.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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