E se você fosse um frango a caminho do abate?

Foto: Andrew Skowron

Vi mais um caminhão transportando frangos. Pessoas passavam, mas não olhavam para a situação dos animais. Era como se fossem invisíveis, não estivessem lá ou não valessem uma olhadela.

Estamos tão imersos na produtificação não humana que poucos veem animais presos em caixas e pensam em como deve ser terrível estar ali, a caminho do abate. Sim, são prisioneiros. Se não fossem, teriam o direito de escolher não estar ali.

Tantas vidas lá dentro, e que logo mais serão apenas uma lembrança para quem, em algum momento, olhou para eles com atenção. Quantos são estes? Poucos, não tenho dúvida. Pensei na impotência de estar ali, ponderando sobre o desconforto de um frango que pude observar melhor.

Sua cabeça estava virada em sentido oposto à cabine e seu bico quase encostava na parte inferior da caixa. Não havia espaço para circulação, restando mover somente a cabeça e mantê-la em posição que não imagino alguém desejando experimentar.

Parecia encolhido em sua própria miséria que resulta duma imposição que repete-se todos os dias. Como são vulneráveis esses animais, e como não sentir tristeza sabendo que são vidas destruídas com tanta facilidade pelo prazer que vem do derramamento de sangue não humano…

Antes de vê-los, senti cheiro forte de ração e penas voavam, sempre voam. Quantas pessoas reclamam das penas que entram nos carros, que caem no asfalto, mas não do destino das aves?

Quem encontrar as penas depois estará diante do que foi deixado por corpos já sem vida, que passaram por ali a caminho da sangria. Como a carne de frango é cara para os animais…

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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